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Foi apresentado na manhã desta quinta-feira (24/11) o resultado da pesquisa sobre uma espécie de dinossauro descoberta em 2004 em Agudo, na região Central do Rio Grande do Sul. O fóssil descoberto tem 228 milhões de anos e após a classificação, o animal recebeu o nome de Pampadromaeus barberenai, que em uma tradução livre do grego significa corredor do pampa, além de homenagear o paleontólogo Mário Costa Barberena.
Pampadromaeus-barberenaiConfira ainda:

- Onde foi achado o fóssil
- A identificação de um novo dinossauro
- A importância científica de Pampadromaeus
- Endereço das imagens disponibilizadas
- Reconstruindo Pampadromaeus barberenai

Onde foi achado o fóssil Pampadromaeus barberenai?

O esqueleto de Pampadromaeus barberenai foi encontrado em rochas sedimentares do Período Triássico da Formação Santa Maria, que datam de 228 milhões de anos atrás, e que afloram em um pequeno açude, nas vizinhanças do município de Agudo, na região Central do estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. O fóssil foi encontrado em 2004 e coletado pelo paleontólogo da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Dr. Sergio Furtado Cabreira.

Durante todo o ano de 2006, o fóssil, que se encontrava dentro de um bloco de arenito de aproximadamente 220 quilogramas, foi preparado para a sua primeira aparição pública. Em 14 de dezembro de 2006, o dinossauro, tombado pelo Museu de Ciências Naturais da Universidade como ULBRA-PVT016, foi divulgado para todo o mundo. Mas, esta seria uma divulgação inicial, uma vez que o fóssil ainda não tinha sido estudado e publicado em uma revista científica de paleontologia.

O município de Agudo é um centro de emigrantes alemães e tem a sua economia baseada na agricultura. A região concentra um grande número de pequenos afloramentos fossilíferos Triássicos que datam de 250 até 200 milhões de anos atrás e que têm se tornado referência internacional pelos importantes achados de fósseis de dinossauros e de diversos outros grupos de vertebrados.

A importância dos fósseis desta região é tamanha que levou à criação da chamada “Rota Paleontológica”, uma associação de municípios que busca o desenvolvimento futuro da paleontologia e do turismo regional baseado na criação de museus, laboratórios e parques paleontológicos. Os municípios de Agudo, Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine formam um quadrilátero de terrenos fossilíferos importantes, onde são encontrados incríveis fósseis de répteis, dicinodontes, cinodontes, proto-mamíferos e dinossauros ancestrais. Estes materiais fósseis ajudam os pesquisadores de todo o mundo a encontrarem respostas para a origem dos mamíferos, dos dinossauros e das aves.

Pampadromaeus-barberenai-2A descoberta de um novo dinossauro

O pequeno dinossauro tinha apenas 50 centímetros de altura e 120 centímetros de comprimento, e teria um peso aproximadamente de 15 quilogramas. Chama a atenção que este é um dos mais bem conservados fósseis de dinossauros encontrados até então em todo o mundo. Trabalhados com as mais qualificadas técnicas de preparação e cuidado, os ossos e dentes de ULBRA-PVT016 parecem pertencer a um animal que tenha morrido há poucos anos.

Nos últimos anos foi formada uma equipe com diversos paleontólogos brasileiros para analisar, classificar e publicar os resultados dos estudos do pequeno dinossauro. A equipe coordenada pelo pesquisador Dr. Sergio Cabreira (ULBRA Canoas) é formada pelos pesquisadores doutores Cesar Leandro Schultz e Marina Bento Soares (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS), Max Cardoso Langer e Jonathas Bittencourt (Universidade de São Paulo - USP) e Daniel Fortier (Universidade de Minas Gerais - UFMG), além do biólogo e mestrando Lúcio Roberto da Silva (ULBRA Cachoeira do Sul).

O trabalho de descrição foi publicado na revista Naturwissenchaften, da Alemanha, no dia 15 de novembro de 2011. O pequeno dinossauro passa a ser chamado de Pampadromaeus barberenai e é reconhecido como um dos mais importantes fósseis no estudo da origem dos dinossauros.

O nome genérico Pampadromaeus é uma referência direta às pradarias do sul do Brasil e deriva da palavra indígena pampa, relativa aos campos que são uma paisagem típica do Estado gaúcho, e o sufixo grego dromaeus: que se refere a corredor. Então, este dinossaurinho seria um dos mais antigos animais a correr pelas planícies do sul do Brasil. O nome de espécie – barberenai – é uma homenagem ao grande pesquisador e paleontólogo brasileiro Mario Costa Barberena, um dos fundadores do Programa de Pós-graduação em Paleontologia do Instituto de Geociências da UFRGS.

A importância científica de Pampadromaeus

Pampadromaeus barberenai representa um dos mais antigos membros da linhagem dos sauropodomorfos, grupo de dinossauros de pescoço longo caracterizado pelo hábito tipicamente herbívoro e pelo grande tamanho de alguns de seus membros, como os saurópodos titanossauros (comuns no período Cretáceo brasileiro). O Pampadromaeus, entretanto, tinha pouco mais de 1,2 metros de comprimento e se alimentaria de pequenos animais e insetos e algum vegetal (hábito denominado onívoro).

O fóssil Pampadromaeus corresponde ao esqueleto desarticulado de um único indivíduo, e por isso o animal pôde ser reconstituído de forma praticamente completa.

Uma das feições mais interessantes do Pampadromaeus é que ele também compartilha muitas características anatômicas com dinossauros do grupo dos terópodos, os famosos bípedes carnívoros Tyrannosaurus rex e no Velociraptor mongoliensis e que existiram a apenas 75 milhões de anos atrás.

Como Pampadromaeus foi encontrado em rochas de 228 milhões de anos, isto indicaria que os primeiros sauropodomorfos e terópodos eram vertebrados muito semelhantes entre si, sendo difícil prever que originariam descendentes herbívoros (saurópodos) e carnívoros (terópodos), animais tão diferentes em termos de morfologia e hábitos.

Endereço das imagens disponibilizadas

Imagens de vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=GfOkZc3tCO8

Fotografias da réplica
http://dl.dropbox.com/u/16052646/PAMPADROMAEUS%20BARBERENAI.rar

Fotografias do fóssil
http://dl.dropbox.com/u/16052646/ossos%20do%20Pampadromaeus%20barberenai.rar

Reconstruindo Pampadromaeus barberenai

Pampadromaeus barberenai recebeu tratamentos especiais para que a sua reconstrução se aproximasse. Os trabalhos de análises prévias incluíram radiografias e tomografias computadorizadas de diversas estruturas ósseas como vértebras, ossos longos e parte de um osso dentário. Entre as estruturas mais relevantes encontradas pelos pesquisadores está a presença de cavidades derivadas de pneumatização das vértebras e dos ossos como o fêmur e a tíbia.

Em Pampadromaeus estas cavidades aéreas atingiram partes do crânio, e também apareciam nas vértebras desde a região cervical até a cauda, e a maioria dos ossos do restante do esqueleto seria extremamente pneumatizada. Os ossos cranianos de Pampadromaeus (maxilar, jugal, nasal, lacrimal) também apresentavam fenestrações características resultantes de processos de desenvolvimento tardio de cavidades pneumáticas. Para os pesquisadores, estas cavidades quando presentes em um esqueleto animal podem servir como indicadores de um metabolismo mais ativo.

Em animais bípedes como dinossauros e aves estas estruturas teriam a função de diminuir o peso relativo das estruturas ósseas e também fariam parte do sistema respiratório, uma vez que estas cavidades se comunicavam entre si e constituíam um sistema de ventilação acessório. Ossos pneumatizados são mais leves e permitem acelerações e frenagens mais rápidas. Para a equipe que estudou Pampadromaeus isto claramente indicaria que a presença de ossos extremamente pneumatizados também seria uma evidência de que este pequeno dinossauro seria muito ágil e ativo, mesmo em condições climáticas mais frias e mesmo durante a noite.

Assim, os pesquisadores resolveram reconstruir Pampadromaeus como um dinossauro bípede, corredor e totalmente endotérmico e homeotérmico. A endotermia é a condição fisiológica que implica que, em um animal, o calor necessário à aceleração das funções biológicas é produzido no interior das próprias células.

Ao contrário, nos répteis, grande parte do calor necessário à “aceleração” das atividades bioquímicas vem da luz solar. Isto implica que os répteis são dependentes da radiação solar e precisam se aquecer ao sol ou buscar regiões de climas quentes para viver.

Estas características fisiológicas especiais dos dinossauros permitiram, em última análise, que eles dominassem o planeta desde o período Triássico até o final do Cretáceo a 65 milhões de anos atrás, quando se extinguiram após um impacto de meteoro sobre a superfície do planeta.  

Desta maneira, a reconstrução de Pampadromaeus recebeu uma cobertura de penas primitivas e também uma coloração. As penas seriam basicamente constituídas como uma incipiente penugem, muito semelhantes àquelas que ainda hoje pode ser vistas cobrindo os filhotes das aves voadoras em geral e também das aves terrestres, todas elas parentes ainda vivos dos dinossauros.

Ainda, a coloração de Pampadromaeus apresenta certa semelhança com a de certos pequenos animais predadores, que precisam ficar ocultos em seu habitat, seja para poderem se aproximar de suas possíveis presas, seja para se esconderem de outros predadores de maior porte.

O paleo-escultor Ronaldo Gemerasca foi escolhido para fazer a réplica de Pampadromaeus, trabalho este que exigiu diversos testes dos materiais a serem utilizados. Ronaldo Gemerasca é funcionário da Fundação Paleobotânica do Estado do Rio Grande do Sul e muito conhecido no meio científico pela excelência dos seus trabalhos de modelagem de animais, plantas e ambientes.