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EscolaMuitos questionamentos pairam sobre a tragédia ocorrida nesta quinta-feira, 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira no Rio de Janeiro. Doze crianças foram assassinadas a tiros por um homem de 23 anos que cometeu suicídio após seus atos. Ainda não se sabe o motivo, nem como o assassino conseguiu armas e munições. Mesmo antes da plena elucidação dos acontecimentos, a professora de Sociologia Maria Stela Grossi Porto sustenta que o trágico fato deve servir de reflexão para os rumos aos quais se direciona a sociedade brasileira.
“Esse caso, embora aponte ter grande peso de elementos psicológicos, não nos impede de refletir sobre que sociedade é essa. Para onde estamos caminhando?”, indaga a professora, que é vice-coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Violência da UnB. Maria Stela critica a postura cada vez mais comum na sociedade brasileira de recorrer a práticas violentas para enfrentar frustrações pessoais.

A socióloga diz que ainda é cedo para se chegar a análises precisas da tragédia. “Aparentemente, esse episódio mostra ter ligações com o indivíduo de não se sentir inserido socialmente. Também pode passar pela falta de uma realização enquanto pessoa”, diz. Em uma visão geral dos casos de crimes violentos no país, Maria Stela aponta para o crescente uso de violência extrema em conflitos entre vizinhos e em outras brigas que poderiam ser conciliadas sem agressões. “Tendo a dizer que no Brasil pesam questões como a impunidade, o que leva aos excessos”, avalia.

O caso pontual do Rio de Janeiro precisa ser acompanhado com ponderação, defende a professora. “Continuo insistindo que é tempo de refletir. Não podemos fazer da nossa sociedade agora um espaço militarizado. Não queremos uma sociedade de controle. Não podemos ter um policial em cada esquina”, diz, indicando que esses fatos são difíceis de se prevenir do ponto de vista da segurança pública.

MÍDA - Maria Stela espera que o crime de Realengo receba tratamento sóbrio da imprensa e lamenta alguns veículos seguirem linhas sensacionalistas para cobrir casos de violência extrema. “Não resta dúvida de que a mídia precisa vender notícias. Isso alimenta, em certa medida, a comoção. Em determinados casos, isso culmina em outros desdobramentos ainda mais violentos como pequenas multidões querendo linchar os acusados”, destaca.

Casos de grande repercussão como o da estudante Eloá Cristina, assassinada após ter ficado em cárcere privado, em Santo André, no interior de São Paulo, e do seqüestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro, foram apontados pela professora como tragédias em que houve de forma negativa a espetacularização da notícia.

OUTRAS SOCIEDADES - Massacres em escolas pareciam estar restritos às páginas de cobertura internacional dos jornais. A chacina do Rio de Janeiro pode indicar que não procede o pensamento de que tais tragédias ocorrem apenas em países ricos. “Tem-se a tendência de acreditar que esses fatos acontecem em países em que as pessoas têm a situação material resolvida. Não sei se é um mito, mas é um estereótipo”, analisa.

A professora questionou ainda outra afirmação de senso comum que relaciona a facilidade de adquirir armas de fogo em determinados países com a ocorrência de crimes como o de 12 anos atrás no Instituto Columbine, nos Estados Unidos, que resultou na morte de 15 estudantes. “Fala-se muito da facilidade de comprar armas no exterior. No Brasil, e nesse caso do Rio, percebe-se que também é muito fácil portar armas por aqui”, argumenta.

Além de ministrar aulas na UnB, Maria Stela integra o Núcleo de Estudos em Violência e Segurança ligado à universidade. A professora é pesquisadora 1A – nível mais alto – do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e colabora com, entre outras instituições, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça.

UnB Agência