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celso-laferCelso Lafer, presidente da FAPESP e docente aposentado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), recebeu do reitor Marco Antonio Zago o título de professor emérito da USP, no dia 14 de dezembro, em cerimônia realizada na Sala São Paulo. O evento contou com a apresentação da Orquestra Sinfônica da USP e o Coral Universidade de São Paulo e encerrou as comemorações dos 80 anos da universidade.
A concessão do título a Celso Lafer foi aprovada pelo Conselho Universitário, em sessão realizada em 20 junho de 2012. De acordo com o estatuto da USP, a universidade “poderá conceder o título de professor emérito a seus professores aposentados que se hajam distinguido por atividades didáticas e de pesquisa ou contribuído, de modo notável, para o progresso da ciência”.

“Com a USP me identifico profundamente, posto que está no cerne do meu percurso desde que nela ingressei como estudante, em 1960”, afirmou Lafer em agradecimento (discurso na íntegra). Lafer formou-se em Direito pela USP, em 1964, e pós graduou-se em Ciência Política na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, entre 1967 e 1970. De volta ao Brasil, integrou o corpo docente da faculdade, tendo alcançado a livre-docência em Direito Internacional, em 1977, e se tornado professor titular de Filosofia do Direito, em 1988. Aposentou-se, compulsoriamente, em 2011.

“Celso Lafer representa os mais altos valores da Universidade de São Paulo que, quando de sua criação em 1934, já estabelecera como finalidade precípua a ´transmissão pelo ensino de conhecimentos que enriquecem ou desenvolvem o espírito, sejam úteis à vida e que tenham valor cultural”, saudou-o Claudia Perrone Moisés, professora do Departamento de Direito Internacional e Comparado, coordenadora do Centro de Estudos Hannah Arendt, ex-aluna de Lafer.

“Como disse Hannah Arendt, ao efetuar uma homenagem ao seu mestre Karl Jaspers, um louvor só pode tentar expressar o que todos já sabem, mas fazê-lo em público não é supérfluo, pois o fato de a homenagem ser compartilhada confere a ela um ‘ poder iluminador, que confirma sua existência real’”, escreveu na saudação distribuída aos presentes.

Moisés lembrou a trajetória acadêmica de Lafer e os títulos recebidos, destacando, também, a sua dedicação à vida pública, para a qual levou os valores humanistas de sua formação. “Com extrema seriedade e dedicação, prestou importantes serviços ao país.”

Lafer é membro da Corte Permanente de Arbitragem Internacional de Haia, da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras. Foi embaixador chefe da missão do Brasil em Genebra, entre 1995 e 1998, período em que presidiu o Conselho Geral e do Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC). No Brasil, foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (1999) e ministro de Estado das Relações Exteriores em dois mandatos (1992 e 2001-2002).

Na saudação, Moisés destacou ainda que os ensinamentos de Lafer “sempre foram voltados para o incremento do espírito, sem deixar de se conectar com a vida ´real`, ou seja, com a prática do jurista que tem como função aplicar seus conhecimentos para solucionar os problemas do convívio entre os homens”.

Com seu mestre Norberto Bobbio, “aprendeu as virtudes da serenidade e da tolerância. Serenidade, como qualidade de deixar o outro ser o que é, e recusando-se a exercer a violência em qualquer situação. Tolerância, como capacidade de receber as opiniões alheias sem preconceitos”.

Moisés assinalou também a atuação de Lafer no campo das letras e das artes, no qual “se destacou com a mesma erudição e elegância demonstrada nos outros campos do saber aos quais se dedicou”.

Publicou dezenas de livros sobre diversas áreas do conhecimento, além de artigos “trazendo temas e autores ao grande público e propondo discussões importantes para a realidade nacional e internacional. Tem cumprido, dessa forma, a missão de levar a cultura da universidade para a sociedade civil”, enfatizou Moisés. Seu livro A Reconstrução dos Direitos Humanos – um diálogo com Hannah Arendt recebeu o Prêmio Jabuti em 1988.

“Dentre as suas contribuições à nossa universidade, gostaria de destacar a promoção e a defesa dos direitos humanos. Lafer aprendeu, com Hannah Arendt, que o espírito e a vida, assim como a razão e a paixão, não são excludentes.”

Homenagens

Em seu discurso, Celso Lafer disse ter se espelhado na atuação e trajetória de dois professores eméritos da USP: Goffredo da Silva Telles Jr., de quem foi aluno, e Alberto Carvalho da Silva, da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da USP, que teve papel fundamental na implantação da FAPESP, tendo sido membro de seu Conselho Superior, vice-presidente, diretor científico e presidente do Conselho Técnico-Administrativo.

“O professor Goffredo foi um dos grandes professores da Faculdade de Direito. Nas Arcadas, mereceu a admiração e a amizade de gerações e gerações de seus alunos, seja pela qualidade de seu magistério, pois sabia iniciá-los no Direito mostrando, com conhecimento e destilada sabedoria, como deve e pode ser um guia para a liberdade e a justiça, seja por sua entranhada devoção aos estudantes e à tradição do Largo de São Francisco.”

Lafer lembrou que, na sessão do Conselho Universitário que concedeu a Goffredo da Silva Telles Jr. o título de professor emérito, a declaração de voto da representação discente destacava que o mestre não só tinha formado juristas, mas “cidadãos da nossa nacionalidade”, reconhecendo o significado da Carta aos Brasileiros, de 1977, “um marco do processo de passagem do regime autoritário para a democracia em nosso país”.

A Carvalho da Silva, Lafer atribui o mérito de ter inoculado a FAPESP com seu espírito público e a amplitude da sua visão do papel do conhecimento para a vida nacional. “À sua perseverante e qualificada atuação em 1988 e 1989 junto aos constituintes federais, respaldado pela comunidade científica, muito deve o reconhecimento constitucional do papel da pesquisa para o desenvolvimento do país.”

Lafer qualificou o trabalho publicado por Carvalho da Silva, Atividades de Fomento à Pesquisa e a Formação de Recursos Humanos desenvolvidas pela FAPESP entre 1962 e 2002, como modelar e inspirador. “É modelar e inspirador como metodologia para conceituar e mensurar o impacto dos resultados das pesquisas apoiadas pela FAPESP e assim prestar contas, como cabe numa democracia, à sociedade e ao contribuinte paulista sobre como estão sendo aplicados os recursos destinados à instituição.”

E acrescentou: “É modelar e inspirador, ainda, por possuir uma visão das cadências mais longas de tempo de pesquisa. E a FAPESP logra levar em conta, em seu processo decisório, essas cadências temporais mais longas, na medida em que possui autonomia administrativo-financeira – outro elemento pelo qual o prof. Alberto lutou com sucesso”.

O título de professor emérito conferido a Lafer foi o 16º conferido pela USP a docentes, lembrou Marco Antonio Zago, reitor da USP. “Celso Lafer, em seu discurso, fez referência a dois grandes mestres da USP que também são professores eméritos. Um humanista e um cientista. Lafer, que é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, entende que a ênfase unilateral em ciência em particular empobrece a ciência como um todo.”

No evento, do qual também participou José Goldemberg, membro da Comissão Coordenadora das Comemorações dos 80 anos da USP, foi lançado pelos Correios selo e carimbo comemorativos da data.

A cerimônia foi encerrada com a apresentação da Sinfonia nº 9 em Ré Menor, de Beethoven, pela Orquestra Sinfônica da USP e o Coral Universidade de São Paulo.

Agência FAPESP