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O editorial da última edição da Nature Physics, revista publicada pelo Nature Publishing Group, apontou a FAPESP e o fomento à pesquisa no Estado de São Paulo como modelos para o desenvolvimento científico nacional e para que a “física brasileira volte ao seu curso”. O texto foi publicado na internet no dia 31 de outubro.
“O primeiro passo para os avanços que levaram a física brasileira ao seu lugar de destaque na comunidade científica internacional foi dado não pelo governo federal, mas pelo Estado de São Paulo”, destacou a publicação.

A revista refere-se à definição de um orçamento próprio para a FAPESP na Constituição do Estado de São Paulo de 1947, baseado inicialmente na transferência de 0,5% do total da receita tributária estadual – percentual elevado para 1% pela Constituição de 1989. “O uso da receita do Estado para lançar sua própria agência de pesquisa estabeleceu bases importantes que continuam a ser relevantes hoje”, diz o editorial.

A Nature Physics ressalta que a conjuntura econômica das décadas de 1980 e 1990 fez com que o financiamento científico federal diminuísse, enquanto a FAPESP, que continuou a receber sua parte nas receitas fiscais estaduais, administrava mais recursos do que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) combinados.

“Apesar de já existirem o CNPq e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a FAPESP foi mais focada em financiamento de projetos, fornecendo uma fonte contínua de apoio crucial”, diz o texto.

O editorial reconhece os avanços conquistados após a superação dos problemas econômicos do fim do século passado e no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que expandiu os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) – em São Paulo, o programa conta com apoio da FAPESP. “Essa estabilidade, junto com um orçamento para a ciência que quintuplicou até atingir 1,2% do PIB, ajudou a impulsionar a física brasileira ao cenário internacional.”

Assim, lembra o editorial, durante o primeiro governo de Dilma Rousseff, a Sociedade Brasileira de Física (SBF) tinha cerca de 6 mil membros, 4 mil estudantes se dedicavam à formação na área e os físicos brasileiros publicavam mais de 5 mil artigos por ano.

A revista conta ainda que o Brasil se prepara para ser o primeiro país latino-americano a se tornar membro oficial da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) e o primeiro membro não europeu do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês).

A publicação, no entanto, chama a atenção para os desafios que permanecem. “Embora existam físicos de renome mundial no Brasil, os trabalhos de pesquisa do país muitas vezes não conseguem atrair citações do resto do mundo.” Para a Nature Physics, pode ser uma questão de tempo até que o “gap do impacto” seja superado – mas, para isso, o governo federal e os estados precisariam continuar a apoiar a ciência.

“Embora o Brasil seja um dos dez países mais ricos do mundo, o investimento em pesquisa e desenvolvimento ainda está bem abaixo do de outros países desenvolvidos, que normalmente passa de 2% e 3% do PIB. A revista menciona cortes de quase um terço no orçamento federal de ciência entre 2010 e 2012. "Embora o nível de financiamento já tenha se recuperado, esses cortes têm tido forte impacto sobre o progresso do Brasil e, finalmente, levou a um grau de incerteza nas comunidades científicas”, criticou a revista.

O editorial também lamentou o pouco espaço que a ciência ocupou nas eleições presidenciais deste ano, “apesar de um dos principais candidatos, Eduardo Campos, ter sido ministro da Ciência no governo Lula”.

A publicação traçou um panorama da disputa presidencial destacando o cenário de dúvidas para a ciência após as eleições e colocando o exemplo da FAPESP como alternativa para o desenvolvimento científico na instância estadual.

“Com tanta incerteza, os governos estaduais brasileiros estão agora seguindo o exemplo de São Paulo e formando seus próprios conselhos de investigação. A FAPESP é uma verdadeira história de sucesso e tem ajudado a tornar São Paulo uma potência, respondendo por mais da metade de toda a produção científica brasileira e com mais de 20% dos cientistas do país.”

A revista cita ainda como exemplos do desenvolvimento científico de São Paulo o fato de o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) estar sediado no Estado, em Campinas, o envolvimento da Universidade de São Paulo (USP) no observatório Alma (sigla em inglês de Atacama Large Milimeter/Submilimeter Array) e a escolha do Núcleo de Computação Científica (NCC) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) como um dos integrantes do programa Intel Parallel Computing Centers.

“Na esperança de emular esse sucesso, já existem mais de 15 agências de fomento estaduais. Mas é claro que o financiamento federal continuará a desempenhar papel fundamental. Cientistas brasileiros só podem esperar que o governo federal olhe para o sucesso notável que São Paulo tem desfrutado para que a física brasileira volte ao seu curso”, concluiu o editorial.

A íntegra do texto pode ser lida em www.nature.com/nphys/journal/v10/n11/full/nphys3160.html#close.

Agência FAPESP