Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Os Laboratórios de Biologia Parasitária da Faculdade de Biociências e de Parasitologia Molecular do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS foram chamados pelo Ministério da Saúde para fazer o diagnóstico de meningite eosinofílica nos primeiros casos detectados no Brasil, causados pelo Angiostrongylus cantonensis.
O parasito é oriundo da Ásia e se estabeleceu no País via portos. Infecta moluscos, seus hospedeiros intermediários, em alguns casos usados na gastronomia, como o escargot. O objetivo agora é adquirir um equipamento para realização na Universidade da PCR em tempo real, que permite mais eficiência e precisão. Da sigla em inglês Reação em Cadeia da Polimerase, a PCR é um teste de detecção de ácidos nucleicos, que cria múltiplas cópias de DNA.

"A padronização e aprimoramento de métodos diagnósticos na meningite cerebral é importante para o diagnóstico individual, monitorar a incidência e prevalência, conhecer a história natural da infecção e avaliar a importância dessas parasitoses como determinantes de morbidade na população humana no País", explica a professora e pesquisadora Ana Cristina Arámburu da Silva. As técnicas de biologia molecular (que permitem detectar DNA ou RNA de microorganismos) são essenciais devido à dificuldade de fazer diagnóstico parasitológico. Na infecção pelo Angiostrongylus cantonensis, as lesões se estabelecem pela passagem das larvas e jovens adultos pelo sistema nervoso central, antes de haver maturação sexual e eliminação de larvas nas fezes.

O Laboratório de Biologia Parasitária mantém o ciclo do parasito desde 1999. Com uma bolsa de pós-doutorado da Coordenação para Aperfeiçoamento de Pessoal (Capes), Ana Cristina ficou dois meses no Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em Atlanta (EUA), centro de referência mundial para diagnóstico de doenças infecciosas. No local, ela padronizou a técnica da PCR em tempo real para a detecção da meningite eosinofílica causada pelo Angiostrongylus cantonensis. Segundo ela, o CDC está interessado na pesquisa desse parasito por sua prevalência no Havaí, New Orleans e Miami. Como o Laboratório de Parasitologia Molecular realiza o diagnóstico imunológico dessa parasitose, o CDC enviará amostras para realização dos testes na PUCRS. Essa integração permite também que alunos da Universidade se aperfeiçoem no CDC. Uma doutoranda da PUCRS está com programação agendada. O pesquisador Alexandre Januário da Silva, coordenador do Laboratório do CDC, visitará a Universidade em setembro.

 A diferença entre o Teste de Elisa (detecção de anticorpos) e a PCR em tempo real é a especificidade garantida pelo segundo tipo de método, enquanto o imunológico não é preciso, devido à ocorrência de reações cruzadas com outros parasitos. Para a realização da PCR em tempo real, é coletado o liquor (líquido cefalorraquiano), por meio da punção da medula óssea do paciente, para extração do DNA. Mais rápido e caro do que a PCR convencional, a PCR em tempo real é de dez a cem vezes mais sensível e específica. "No CDC, tive a oportunidade de padronizar a especificidade do teste, utilizando amostras de pacientes com os parasitos Naegleria, Toxocara, Balamuthia e Achantamoeba", informa a professora.

Participam da pesquisa os alunos da Faculdade de Farmácia da Universidade Rafael Munareto do Nascimento e Bárbara Rodrigues Alves, estagiários no Laboratório de Biologia Parasitária.

Os riscos aumentam no Brasil
Os pacientes com meningite eosinofílica podem apresentar febre, dor de cabeça, rigidez na nuca, visão dupla de um objeto e sensibilidade excessiva a qualquer estímulo. Com risco de até mesmo causar a morte, a doença é tratada com mebendazol (anti-helmíntico) e dexametasona intravenosa (prednisolona - esteróides).

A meningite eosinofílica é causada por Angiostrongylus Cantonensis, Toxocara e Gnathostoma, entre outros. Nas meningites causadas por parasitos, o liquor apresenta em torno de 70% de eosinófilos (um tipo de glóbulo branco).

A professora Ana Cristina Arámburu da Silva diz que os riscos aumentarão no Brasil com a rápida proliferação da Achatina fulica, molusco hospedeiro, nas regiões litorâneas. "Tentaram introduzi-lo como substituto do escargot, mas não teve aceitação ao paladar brasileiro. Mesmo assim, os caramujos foram soltos na natureza e as pessoas, ao se alimentarem, podem infectar-se." Embora a baixa suscetibilidade das populações desses moluscos ocorrentes no Sul do Brasil, o risco para saúde pública existe e precisa ser alvo da vigilância epidemiológica, alerta a professora.

Assessoria de Comunicação Social - PUCRS / ASCOM