Sabe aquele desejo infantil de ter poderes especiais e conseguir estar em dois locais ao mesmo tempo? Bem, isso, claro, ainda não é possível. Mas, por conta da internet, os migrantes latino-americanos vivem uma condição semelhante, de transnacionalidade: conseguem estar fisicamente num país e virtualmente noutro. Essa foi uma das conclusões que emergiram da pesquisa Usos da Internet rumo a uma cidadania comunicativa: um estudo sobre redes sociais de migrantes latino-americanos em Barcelona, fruto da tese que Liliane Dutra Brignol, dourtoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, desenvolve sob a orientação de Denise Cogo.
O trabalho foi um dos 16 selecionados para ser apresentado na sexta reunião anual da RedGob (Rede Euro-Latino-americana de Governabilidade e Desenvolvimento), dias 9 e 10/12, em Lisboa, Portugal. Coordenada pelo escritório europeu do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a rede foi estabelecida em novembro de 2003, em Barcelona, com o propósito de criar um espaço de reflexão e debate sobre governabilidade, políticas públicas e desenvolvimento na Europa e na América Latina.
O primeiro passo da investigação * realizada em Barcelona em razão da bolsa sanduíche de doutoramento que Liliane recebeu da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) dentro do Programa de Cooperação Internacional Brasil/Espanha, do qual participaram dois grupos de pesquisa do PPG em Comunicação da Unisinos * foi descobrir de que forma esses migrantes utilizavam a internet. Inicialmente, ela pesquisou sites sites de entidades e organizações de migrantes, e seguiu as indicações de endereços eletrônicos fornecidos pela própria prefeitura da cidade espanhola.
O segundo passo foi encontrar essas pessoas. Para tanto, visitou os chamados locutórios, casas de internet e cabines telefônicas, assim como festas, lojas e mercados de produtos latinos. Aplicou um total de 60 questionários em migrantes provenientes de 13 países. Após, escolheu oito deles, representativos em nacionalidade, condições de cidadania e sexo, para uma entrevista em profundidade.
“A internet é utilizada para a manutenção do vínculo com amigos e familiares que estão no país de origem, para aproximar os distantes”, revela Liliane. “Mas também percebi a importância social desses locais virtuais como espaços próprios, de reconhecimento, em que ocorre a interação entre iguais, ou seja, entre os migrantes de Barcelona”, acrescenta. Essa interação, diz ela, acontece de duas maneiras. A primeira é voltada a resolver questões corriqueiras, sobre como encontrar advogado, emprego, uma casa para morar, entre outros. A segunda refere-se à relação mais afetiva entre os sujeitos, contemplando, nesses casos, sites de relacionamento como Orkut, no caso dos brasileiros, e Hi5 e MySpace, para os demais.
As conclusões derrubaram a idéia de que a internet ajudaria a formar grupos fechados. “Ao invés de funcionar como guetos, esses espaços servem inclusive como uma porta de entrada para os migrantes participarem da dinâmica da cidade. É um movimento complexo, em que cada sujeito vai construindo um mapa de elos próprios na web”, explica. “A internet tem um papel de dinamizadora de relações e vínculos. Muitos, inclusive, aprenderam a usá-la por estarem fora”, conclui.
O próximo passo da pesquisadora, agora, é descobrir como essas relações entre migrantes na web ocorrem no contexto de Porto Alegre.
Comunicação Institucional Unisinos