
Para o reitor, a aquisição do acervo foi mais um exemplo de cidadania do juizforano. “Todos ajudaram de alguma forma ao longo do processo e, hoje, posso dizer que o acervo do Dormevilly Nóbrega pertence a todos.” Ele ressaltou o empenho do pró-reitor de Cultura e da compreensão dos herdeiros do jornalista. “Vocês foram muito importantes e fizeram aquilo que seu pai queria que era a permanência de todo esse material em Juiz de Fora. Vocês honraram o nome do pai e da mãe de vocês”, disse aos dois dos filhos presentes na cerimônia.
A generosidade da família também foi citada por Pinho Neves. “Falar do acervo é voltar no tempo, principalmente para lembrarmos da generosidade de Dormevilly, que tanto apoio deu a pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.” Para ele, a nova aquisição da UFJF enriquece a política de acervo da instituição e contribui para as pesquisas da memória regional e do município. Amigo pessoal de Dormevilly, o jornalista Wilson Cid lembrou da disposição do companheiro de profissão em ensinar. “Sempre aberto a ensinar, foi o mais disponível de todos nós. Foi ele quem nos ensinou a preservar a memória de Juiz de Fora.”
O vereador Flávio Cheker (PT), que ainda em 2000 propôs a organização e a preservação de todo o material pelo poder público, agradeceu o reitor que, como homem público, concretizou a aquisição do acervo. Para ele, Dormevilly foi “o homem que amava os livros.” Já Dormevilly Nóbrega Júnior lembrou que o sonho do seu pai era que tudo aquilo que ele havia guardado durante anos não saísse de Juiz de Fora. “Mantivemos a nossa palavra empenhada com o papai. Nossa carga nos ombros diminuiu bastante.”
O acervo
Iniciado aos 13 anos de idade, o acervo organizado por Dormevilly Nóbrega é uma das mais importantes coleções formadas em Juiz de Fora sobre assuntos mineiros e, em especial, sobre a própria cidade. A coleção inclui quadros de importantes pintores da cidade, esculturas, bustos, documentos assinados, e mais de 20 mil títulos entre livros raríssimos, coleções completas de jornais do século 19, revistas da primeira metade do século 20, obras de autores juizforanos do final do século 19 e início do século 20. O acervo ficava acondicionado em dezenas de estantes, que ocupavam seis cômodos de sua casa, no Bairro de Lourdes, onde Dormevilly fazia questão de atender a todos os que o procuravam para pesquisas.
Dormevilly Nóbrega nasceu em 17 de dezembro de 1921, em Três Corações (MG) e faleceu em 18 de abril de 2003, em Juiz de Fora, aonde chegou, em 1932. Serviu o Exército durante a Segunda Guerra Mundial. Atuou como figurinista e rádio-técnico. Aprendeu com o avô marceneiro a pintar e esculpir. Foi cantor de rádio e seresteiro, além de professor de português, geografia e desenho. No jornalismo, começou como tipógrafo, aos 13 anos, na Folha Mineira. Aos 16, já era repórter. Trabalhou também nos jornais Gazeta Comercial e Diário Mercantil e na Revista Marília. Como jornalista, atuou, ainda, em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Como servidor público, trabalhou na Prefeitura e na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Nomeado pelo governador Magalhães Pinto, foi Intendente do município de Belmiro Braga, tendo assessorado o primeiro prefeito da cidade.
Dormevilly também era artista plástico, formado pela Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras, membro-fundador da Academia de Letras de Juiz de Fora e do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora. Sua dedicação à preservação da memória da cidade rendeu-lhe o título de Cidadão Honorário de Juiz de Fora (1954), a Medalha do Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld (1984) e a Medalha do Sesquicentenário de Juiz de Fora (2003).
Fonte: Funalfa