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A cirurgia pediátrica ainda é um tabu na medicina brasileira. Ao mesmo tempo em que é fundamental para salvar bebês no início  de suas vidas, é uma especialização que demanda muitos anos de estudos (11 de formação e, pelo menos, mais quatro para mestrado e doutorado), não possui centro de referência no país e é um trabalho muito arriscado. "Muitos recém-nascidos morrem. Não raro, as pessoas querem processar o médico", diz o professor Lourenço Sbragia Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Ainda assim, quando um defeito congênito é detectado quando a criança ainda está na barriga da mãe e todos os cuidados são tomados - da internação à busca da equipe especializada para a cirurgia - o sucesso costuma ser maior do que o fracasso.

Devido à falta de interesse dos atuais estudantes pela especialidade e também para colocar em contato os pesquisadores da área, a FMRP recebe, nos dias 7 e 8 de maio, a primeira edição do Simpósio Internacional de Pesquisa em Cirurgia Pediátrica. "A intenção é apresentar um simpósio parecido com os da Academia Americana de Pediatria e Cirurgia Pediátrica, com micropalestras voltadas para um único tema e duração de 20 minutos. E, nos intervalos, são apresentados trabalhos científicos para trocar informações relevantes, e criar uma rede rede de conhecimento", afirma o professor Sbragia, organizador do evento. Além de estudantes de medicina, profissionais já formados e pesquisadores, interessa também ao organizador atrair psicólogos e fisioterapeutas, que terão de lidar com crianças com problemas de nascença, como defeito peniano ou no ânus. A presença desses outros profissionais no simpósio pode contribuir para a melhora do bem-estar infantil. "Se não incentivarmos hoje, daqui 10 anos não vai haver mais pesquisadores nessa área", diz Sbragia.

Variedade
Entre os palestrantes convidados, todos são líderes de pesquisa, sendo USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) as principais instituições que abrigam pesquisas no Brasil. Mas há convidados da Universidade Federal do Ceará (UFC), de Pernambuco (UFPE), de Minas Gerais (UFMG), Universidade do Minho (Portugal) e Hospital Infantil Vall d´Hebron (Espanha). "O desenvolvimento de pequisas em cirurgia pediátrica no Brasil é muito pequeno. Mas, fora, a área é extremamente bem conceituada", afirma. Em Ribeirão Preto, Sbragia pesquisa defeitos congênitos. Em São Paulo, o forte é transplante de fígado e regeneração hepática. Na EPM, estuda-se as anomalias anorretais (do ânus e reto) e como controlar os intestinos depois do nascimento da criança. Na Unicamp, os nervos intestinais envolvidos no processo cirúrgico. "Se a criança tem algum problema e deve ser submetida a uma cirurgia, deveria ser encaminhada para um especialista. Mas muitos pais a mandam para um cirurgião de adulto. Se uma menina tem sangramento na vagina, os pais a levam a um ginecologista. Mas ele não sabe que o sangramento pode indicar um câncer. Na criança é tudo diferente", alerta o médico.

O problema é grave se contabilizarmos quantos recém-nascidos precisam de cirurgia. A cada 100 grávidas, de uma a duas (1% a 2%) carregam um feto com problema. Dessas gestantes, 1% tem problemas clínicos que afetam o bebê, como hipotiroidismo ou diabetes. O outro 1% dá à luz uma criança com defeito estrutural, como hérnia, nascer sem esôfago, sem ânus, com espinha bifida, defeitos congênitos, cardíacos, na uretra etc. Metade desses casos é o cirurgião pediátrico quem cuida. Ou seja, 0,5% dos recém-nascidos precisam ser tratados por um cirurgião pediátrico. Em 2007, a taxa de natalidade do Brasil foi de 16,3 bebês a cada mil pessoas - ou seja, 2.999.200 bebês nasceram (à época, a população do país era de quase 184 milhões de habitantes) e 14.996 precisaram do apoio de um cirurgião pediátrico e certamente não tiveram, ou por desconhecimento por parte dos pais da especialidade ou por não terem acesso a um hospital em que ela era oferecida.

Serviço
O primeiro Simpósio Internacional de Pesquisa em Cirurgia Pediátrica acontece nos dias 7 e 8 de maio no Espaço de Eventos do Bloco Didático da FMRP. As inscrições são gratuitas para alunos de iniciação científica PIBIC/CNPq 2008-2010 ou FAPESP com trabalhos aceitos, custam R$ 80 para alunos de graduação, R$ 100 para residentes e afiliados da CIPE e CIPESP e R$ 120 para médicos e outros profissionais. As inscrições podem ser feitas pelo site do simpósio. Mais informações e programação: (16) 3602-2501 ou Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Assessoria de Imprensa da USP