Cada parte do país reagiu de acordo com seus interesses e alianças. No artigo O grito que não foi ouvido, a professora de História, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Lucia Bastos Pereira das Neves, autora de Corcundas e constitucionais: a cultura política da Independência (1808-1822), esclarece que a independência não foi tão facilmente reconhecida nem por Portugal nem por todos brasileiros. No início de 1823, por exemplo, o Maranhão elegia deputados para as Cortes ordinárias de Portugal, enquanto várias províncias já escolhiam seus deputados para a Assembleia Legislativa e Constituinte do Rio de Janeiro.
Embora os laços de sangue faziam da Independência um processo ambíguo e parcial, a imagem do ato memorável de D. Pedro I com a pintura "Proclamação da Independência" reforçava a idéia de que a emancipação monárquica era a única saída e dada como certa. No artigo Ao gosto do freguês, a professora de Antropologia, da Universidade de São Paulo (USP), Lilia Moritz Schwarez, autora de O sol do Brasil, destaca a importância desta pintura de François-René Moreaux, que não foi realizada nem no calor da hora ou da observação direta, mas pintado em 1844: "Toda tela relê, traduz e sugere significados, ainda mais quando se trata de pinturas históricas financiadas pelos próprios governantes. É este o caso da obra “Proclamação da Independência” – hoje pertencente ao Museu Imperial, em Petrópolis, no Rio de Janeiro".
Outros artigos completam o dossiê, entre eles Independência é liberdade e Sangue 'patriótico', dos professores de História Hendrik Kraay, da Universidade de Calgary, Canadá, e Magda Ricci, da Universidade Federal do Pará, respectivamente. A independência brasileira não veio sem resistência, inclusive armada. No Grão-Pará, que na época também incluía a área do atual estado do Amazonas, a elite demonstrava mais interesse pela política lusitana do que pelos acontecimentos no Rio de Janeiro. Em 23 de agosto de 1823, o Grão-Pará foi incorporado ao Império do Brasil de forma aparentemente pacífica, se não considerar o massacre de mais de 250 pessoas.
Na Bahia, escravos entraram na sangrenta guerra pela independência do Brasil e para si próprios. O Exército Pacificador, composto de soldados milicianos e batalhões provisórios organizados pelos grandes senhores de engenho contra tropas comandadas pelo brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo. D. Pedro I declarou apoio ao Exército Pacificador e enviou o oficial francês Pedro Labatut, que sugeriu reforçar as tropas com escravos, na promessa de alforria. Afinal, que interesse teria um escravo para lutar pela independência do Brasil, senão pela promessa de liberdade?
A revista – Desde o seu lançamento em 2005, a Revista de História da Biblioteca Nacional oferece informação qualificada em artigos e matérias produzidos pelos mais importantes historiadores brasileiros. A publicação conta com a chancela e o rico acervo iconográfico da Biblioteca Nacional. Sua linguagem e apresentação agradável conquistaram um público abrangente independentemente de formação educacional ou área de atuação profissional. Única em seu segmento editorial especializada em História do Brasil, a RHBN é distribuída mensalmente nas bancas de todo o país e pode ser assinada. O conteúdo integral de todas as edições da revista também pode ser acessado no endereço http://www.revistadehistoria.com.br.