
Até agora, muitos especialistas da área aceitavam que todos os tipos de medo seguiam o caminho dos medos aprendidos. É o caso de quando, em laboratório, pesquisadores tocam um som e logo depois dão um choque em um rato. Toda vez que o animal ouve aquele som, tem reações de medo, mesmo na ausência de dor.
As sensações nesse tipo de medo são percebidas na amídala, que envia o estímulo para regiões cerebrais responsáveis pelo aprendizado do perigo e pelo comportamento de medo, entre elas o hipotálamo.
Porém, ao estudar os medos inatos, como o de um predador, ou do medo causado por um oponente mais forte, um grupo de pesquisadores do Laboratório de Neuroanatomia Química do ICB descobriu que o hipotálamo tem um papel mais importante.
O grupo, liderado pelo professor Newton Canteras, fez testes para ver quais regiões do cérebro do rato são ativadas em situações de medo inato. Um exemplo é quando o rato enfrenta um oponente ameaçador da mesma espécie. Eles colocaram ratos “franzinos” dentro da gaiola de ratos mais fortes, que já se sentiam donos do lugar. Os ratos mais fracos apanhavam e logo se fingiam de mortos, em sinal de medo.
Como uma sirene
Os pesquisadores então dissecaram o cérebro dos animais e perceberam que uma região do hipotálamo, a porção ventral do núcleo premamilar, era importante para transmitir os sinais de perigo iminente e medo. Quando os cientistas lesionaram essa área, os ratos, mesmo depois de apanhar, não mostravam reações de medo, mas curiosidade. “O hipotálamo funciona como uma sirene, amplificando a informação de perigo iminente. Isso mobiliza os sistemas que comandam a reação ao medo”, explica Sandra Ortiz, pesquisadora do grupo.
Em outro teste, eles colocaram ratos dentro de uma gaiola transparente e mostravam a eles gatos, predadores que nunca tinham visto. Os ratos tentavam fugir. Os pesquisadores perceberam que a região dorsal do núcleo premamilar era ativada. Da mesma forma que a outra experiência, quando os cientistas lesionavam essa região do cérebro, os ratos não tinham medo, mesmo quando encaravam um gato.
Provavelmente os caminhos neurais do medo são diferentes em seres humanos, cujo cérebro é diferente dos ratos. Atualmente, o grupo está estudando a matéria cinzenta periaquedutal, região que fica no mesencéfalo, entre os dois lados do cérebro, e o início da coluna vertebral.“Quando essa estrutura está muito mobilizada, a pessoa relata sensação de pânico, medo iminente. Talvez o estudo ajude a entender melhor esse tipo de medo.”
Assessoria de Imprensa da USP