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Depois da epidemia de Zika, iniciada em 2015, e do surto de febre amarela, no começo deste ano, o Brasil corre o sério risco de ser afligido por outro vírus de ampla distribuição nas Américas do Sul e Central e no Caribe, que se adaptou ao meio urbano e tem chegado cada vez mais próximo das grandes cidades brasileiras. É o oropouche – um arbovírus (vírus transmitido por um mosquito, como o Zika e o da febre amarela), que causa febre aguda e, eventualmente, meningite e inflamação do encéfalo e das meninges (meningocefalite).
O alerta foi feito por Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), durante palestra sobre vírus emergentes na 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Com o tema “Inovação – Diversidade – Transformações”, o evento, que ocorre até o próximo sábado (22/07) no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reúne pesquisadores do Brasil e do exterior e gestores do sistema nacional de ciência e tecnologia.

“O oropouche é um vírus que potencialmente pode emergir a qualquer momento e causar um sério problema de saúde pública no Brasil”, disse Figueiredo durante o evento.

De acordo com o pesquisador, que coordena um Projeto Temático apoiado pela FAPESP, há mais de 500 mil casos relatados no país nas últimas décadas de febre do oropouche – como é conhecida a doença causada pelo vírus.

Esse número, contudo, tende a subir, uma vez que o vírus, transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis – conhecido popularmente como maruim ou borrachudo –, antes restrito aos pequenos vilarejos da Amazônia, tem se alastrado e chegado às grandes cidades do país, ponderou Figueiredo.

“O oropouche é um vírus que tem um grande potencial de emergência, porque o Culicoides paraensis está distribuído por todo o continente americano. O vírus pode sair da região amazônica e do planalto central e chegar às regiões mais povoadas do Brasil”, apontou.

Aumento de casos

O número de casos de febre oropouche também tem se tornado mais frequente em áreas urbanas não só no Brasil, como no Peru e países do Caribe.

No Brasil, o vírus já foi isolado em aves no Rio Grande do Sul, em um macaco sagui em Minas Gerais e foi detectada a presença de anticorpos neutralizantes (que se ligam ao vírus e sinalizam ao sistema imune que destrua aquele corpo estranho e o impeçam de completar a infecção com sucesso) em primatas em Goiânia.

“Fizemos recentemente, em parceria com o professor Eurico Arruda [do Departamento de Biologia Celular da FMRP-USP)] o diagnóstico de um paciente de Ilhéus, na Bahia, com febre oropouche. Isso mostra que o vírus tem circulado pelo país”, avaliou.

Os pesquisadores da instituição já haviam diagnosticado, em 2002, 128 pessoas infectadas pelo vírus oropouche em Manaus (AM).

Os pacientes apresentavam os sintomas típicos da infecção, como febre aguda, dores articulares, de cabeça e atrás dos olhos.

Três deles desenvolveram infecção no sistema nervoso central. “O vírus foi encontrado no líquor cefalorraquidiano desses pacientes”, disse Figueiredo.

O que chamou a atenção dos pesquisadores é que um desses três pacientes tinha neurocisticercose – infecção do sistema nervoso central pela larva da tênia do porto (Taenia solium) – e outro tinha Aids.

“Isso mostra que algumas doenças de base ou imunodepressão [deficiência do sistema imune observada durante doenças, como o câncer e a Aids] podem facilitar que o vírus chegue ao sistema nervoso central”, apontou o pesquisador.

“É algo que quase ninguém pensa ao tratar de uma arborvirose e é preciso considerar essa possibilidade”, afirmou.

Os 128 pacientes infectados com oropouche em Manaus tinham diagnóstico clínico de dengue, uma vez que os sintomas da doença são parecidos com os da febre oropouche.

Por essa razão, os pesquisadores da FMRP-USP e de outras instituições, como a Fiocruz, começaram a chamar a atenção para o fato de que o vírus oropouche pode ser a causa de muitos casos suspeitos de dengue no Brasil.

Agência FAPESP