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Estudo coordenado pelo médico José Xavier-Neto, do Laboratório Nacional de Biologia (LNBio), de Campinas, indica que a infecção pelo vírus Zika só produz anormalidades congênitas graves em filhotes de camundongos quando suas mães são expostas ao patógeno entre o quinto e o 12º dia depois da fecundação. Em seres humanos, esse intervalo de tempo equivale à segunda e à quinta semana de gestação. Nos roedores, a infecção por Zika após o 12º dia do ato sexual não levou a malformações significativas nos filhotes. O trabalho foi publicado no dia 23 de fevereiro na revista eletrônica PLOS Neglected Tropical Diseases.
O artigo da equipe do LNBio, que contou com financiamento da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), envolveu a criação de um modelo animal da infecção por Zika que fosse similar ao que ocorre em humanos.

Em duas linhagens selvagens de camundongos, com um sistema imunológico apto a combater infecções, os pesquisadores injetaram o vírus na veia jugular de fêmeas grávidas em diferentes momentos da gestação, entre 5,5 e 19,5 dias após a fecundação. Dessa forma, puderam ver a sequência de problemas que o vírus causa nos filhotes de roedores em função do estágio da gravidez em que houve o contato com Zika.

“Queríamos mapear a janela crítica em que a infecção na gravidez produz malformações congênitas”, disse Xavier.

Como regra geral, o estudo indica que, quanto mais cedo se dá o contato com o Zika durante a gestação, maiores são os danos causados. Filhotes de fêmeas que foram contaminadas cinco dias após a fecundação apresentaram uma série de problemas de desenvolvimento: fechamento incompleto do tubo neural (disrafia), hidrocefalia (acumulação de líquido cefalorraquidiano no cérebro, levando ao aumento de tamanho e inchaço do crânio), atraso no crescimento do embrião, além de outras severas malformações.

“Em seres humanos, a hidrocefalia é um prenúncio de que vai haver microcefalia”, disse Xavier.

Quando a infecção ocorria entre 7,5 e 9,5 dias depois da fecundação, os filhotes exibiam um quadro clínico que não se limitava à microcefalia. Eles também tinham hemorragia no interior da bolsa amniótica, edema generalizado e pouca vascularização, sobretudo na região cerebral. Alguns embriões chegaram mesmo a morrer no útero depois da infecção. Segundo o pesquisador, o modelo animal de Zika desenvolvido no LNBio é o único a mostrar simultaneamente disrafia, hidrocefalia e artrogripose (contração congênita das articulações, que leva à formação de mãos e pés tortos ou curvados).

Infecções induzidas após o 12º dia de fecundação não provocaram danos maiores nos fetos de roedores. Embora ausente dos tecidos cerebrais dos embriões que se encontravam nessa fase da gestação, o genoma do Zika foi detectado em células do baço, do fígado e dos rins dos camundongos em formação.

“Não podemos dizer que há um período seguro da gravidez para a ocorrência de uma infecção por Zika”, disse o cardiologista Kleber Franchini, do LNBio, outro autor do estudo.

O artigo de Xavier-Neto e outros, “Hydrocephalus and arthrogryposis in an immunocompetent mouse model of ZIKA teratogeny: A developmental study”, publicado na PLOS Neglected Tropical Diseases está acessível em http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0005363.

Revista Pesquisa FAPESP