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amazonia satelliteO impacto do El Niño na Amazônia, relacionado ao aumento da temperatura e à seca na região, pode ser abrandado ou agravado por outro fenômeno climático, originado no Oceano Índico: a Oscilação de Madden e Julian (OMJ), que pode favorecer o aumento ou a diminuição das chuvas. Para compreender o padrão das interações entre os fenômenos, pesquisadores apoiados pela FAPESP têm aprimorado modelos numéricos capazes de reproduzi-los em computador e realizar projeções mais precisas das mudanças climáticas.
Pesquisas na área foram apresentadas durante a Reunião Anual de Projetos do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), realizada na sede da instituição ontem (18/02) e hoje. O evento reúne pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e de outros países para apresentar e discutir os principais trabalhos em andamento vinculados ao programa.

As pesquisas com modelos numéricos apresentadas na ocasião são resultado de colaborações entre pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos. Os modelos utilizados simulam, entre outros fenômenos, as interações da superfície com a atmosfera terrestre.

“A ideia é testar e aprimorar esses modelos, complementando-os com dados obtidos em diferentes pesquisas, para que seja possível realizar simulações de longo prazo sobre como o clima está mudando na Amazônia, reproduzindo todas as condições climáticas com fidelidade”, explicou Tercio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, responsável pela pesquisa "Processos de multiescala que atuam na convecção tropical e a influência de aerossóis", realizada com apoio da FAPESP.

Após as análises observacionais em curso, os pesquisadores trabalharão na modelagem numérica dos padrões de interações entre o El Niño, fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical, e a Oscilação de Madden e Julian, resultante de um aglomerado de nuvens desenvolvido no Oceano Índico cuja propagação gera ondas de nuvens convectivas que chegam à região amazônica e que podem afetar a preciptação.

“A Oscilação de Madden e Julian se propaga ao longo da região equatorial. Ela se inicia no Oceano Índico, passa pelo Pacífico oeste e, embora as nuvens diminuam e quase desapareçam no Pacífico leste por causa das águas mais frias, a onda continua para o leste. Ao chegar à região amazônica, ao norte da América do Sul, desenvolve-se novamente e se propaga até voltar ao Índico, num ciclo que dura de 40 a 50 dias”, contou o pesquisador.

Como se trata de uma onda de nuvens convectivas, sua chegada à Amazônia pode favorecer o aumento ou a diminuição da chuva, dependendo de suas interações com outros fenômenos, como a Oscilação Sul El Niño (Enso). Dependendo da fase em que a interação ocorra, as ondas podem favorecer a ocorrência de mais chuva ou eventos de extrema seca.

Os dados são comparados aos de outras regiões do globo, como ilhas do Oceano Pacífico. “O objetivo é saber se o início da convecção que ocorre no Pacífico tem similaridades com o que acontece no meio da Floresta Amazônica, determinando quais são as diferenças entre um ambiente oceânico e de floresta. Essas similaridades são importantes para que sejam feitos ajustes que permitam que os modelos representem o crescimento das nuvens de forma realista, considerando o ambiente em que elas estão se formando”, explicou.

O grupo de Ambrizzi também trabalha em simulações das fontes poluidoras de Manaus. Um modelo químico simulará quais são as fontes geradoras de poluentes, considerando interações com os modelos numéricos que geram nuvens e ampliando a compreensão sobre como os aerossóis, pequenas partículas de líquido ou sólido em suspensão no ar na forma de gás, e outros gases interagem com essas nuvens e podem modificar seu crescimento.

Os modelos numéricos testados pelos pesquisadores utilizam dados da colaboração científica internacional Green Ocean Amazon (GOAmazon), que estuda as interações entre a Floresta Amazônica e a atmosfera e mede os níveis de poluição de Manaus e sua influência no ciclo de vida das nuvens e da formação de chuva.

A iniciativa conta com pesquisas apoiadas pela FAPESP, apresentadas na ocasião por Paulo Eduardo Artaxo Netto, professor titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP, membro da coordenação do PFPMCG.

“Trata-se de área urbana com cerca de 2 milhões de habitantes, cercada por centenas de quilômetros de florestas. O estudo dos processos atmosféricos que ocorrem nessa interação é importante não só para a compreensão das mudanças climáticas regionais, mas também para as globais”, disse Artaxo Netto.

No escopo da pesquisa está a realização de medições em seis diferentes sítios, seguidas de estudos detalhados sobre transporte e processamento atmosférico. Três sítios medem propriedades atmosféricas do vento acima da pluma de Manaus; dois, próximos ao Rio Negro e ao município de Manacapuru, realizam medidas de vento abaixo da pluma de Manaus; um último opera no centro da capital

Reunião Anual de Projetos do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (video YouTube)

Nova chamada

Os trabalhos apresentados na Reunião Anual de Projetos do PFPMCG integram as 38 pesquisas em andamento apoiadas pelo programa, que conta com 71 já concluídas. Uma nova chamada de propostas de pesquisa está aberta até 26 de fevereiro e selecionará projetos em “Mudanças climáticas e suas relações com energia, água e agricultura”.

“Os problemas decorrentes das mudanças climáticas foram identificados por cientistas há mais de 40 anos e se tornaram um elemento importante de políticas públicas no mundo todo. A ciência foi essencial para trazer à tona esse entendimento sobre os problemas e a FAPESP se coloca à frente do desafio que é apresentar as soluções para eles”, destacou José Goldemberg, presidente da FAPESP, na abertura do evento.

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, lembrou a participação da comunidade científica de São Paulo na formulação das metas voluntárias de redução das emissões de gases de efeito estufa apresentadas pelo Brasil na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris.

“As pesquisas realizadas com o apoio do PFPMCG contribuem no sentido de apresentar caminhos científicos para a viabilização dessas metas. É preciso entender claramente que direções tomar a partir do que foi proposto, e a ciência tem papel fundamental nisso.”

As novas propostas ao PFPMCG podem ser apresentadas nas linhas de fomento Auxílio à Pesquisa – Regular, Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático ou Programa Jovem Pesquisador em Centros Emergentes, via Sistema de Apoio a Gestão (SAGe) da FAPESP. Os projetos selecionados serão anunciados no dia 30 de maio.

Mais informações sobre a chamada estão disponíveis em www.fapesp.br/9824.

Agência FAPESP