Ledru explicou à Agência FAPESP que os relógios moleculares – modelos matemáticos que os geneticistas utilizam para determinar as taxas das mutações genéticas de determinada espécie – não coincidem com os ciclos de precessão (ciclos pluviométricos que se repetem a cada 23 mil anos, força motriz do clima no Quaternário), nem com qualquer outro ciclo conhecido, à exceção do chamado ciclo de excentricidade.
“Trata-se de um ciclo de 400 mil anos relacionado à quantidade de energia que incide sobre a superfície da Terra. Notamos que a maioria da especiação e a diversificação de espécies na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica acontecem justamente nos períodos de baixa variabilidade de insolação”, disse.
De acordo com Ledru, o Institut de Recherche pour le Développement focou seus estudos em análises com espécies de aves, encaminhadas por equipes da Universidade de São Paulo (USP). “Mas já sabemos que o mesmo pode funcionar com espécies vegetais e anfíbios, entre outros seres vivos”, disse.
A hipótese ainda não foi comprovada com registros fósseis, pois, segundo Ledru, os registros mais antigos a que se tem acesso datam de apenas 130 mil anos atrás. Mas a equipe da pesquisadora prevê, para 2015, perfurações na Cratera de Colônia, no extremo sul da cidade de São Paulo, para investigar mais sobre a história paleoecológica da Mata Atlântica por meio de registros fósseis de pólen, análises de isótopos, entre outros indicadores.
A relevância de estudos como esses vem do fato de que, em torno da evolução da Mata Atlântica, ainda paira a dúvida que a evolução da Floresta Amazônica suscita há pelo menos 30 anos: será que o último máximo glacial contribuiu para a especiação nesses biomas? E, durante o Quaternário, que consequências o sistema glacial e interglacial provocou em animais e plantas?
“As pesquisas realizadas até hoje apontam que as respostas fornecidas pelos ciclos glaciais e interglaciais não respondem a essas perguntas sobre especiação. Por isso, estamos buscando outras ideias e hipóteses, como esta que relaciona excentricidade e diversificação de espécies”, disse.
No sentido de aprofundar conhecimentos sobre energia solar, clima e especiação, os próximos passos de pesquisas previstos por Ledru são estudar fósseis mais antigos e de períodos contínuos; aprimorar a cronologia oferecida pelos relógios moleculares; e, quem sabe, redefinir a organização das florestas no Holoceno (período que vai desde a última era glacial, há cerca de 12 mil anos, até os dias de hoje) levando em conta as mudanças em termos de insolação.
Agência FAPESP