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O glaucoma atinge de 2 a 4% da população mundial, sendo que no Brasil existem 1 milhão de portadores da doença, que, se não for diagnosticada precocemente e tratada de maneira correta, pode levar à cegueira irreversível. Com o objetivo de aperfeiçoar o seu diagnóstico, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG desenvolveu estudo comparativo entre cinco métodos comumente utilizados para diagnosticar a doença.
O resultado do estudo Provocative tests, functional exams and daily curve of intraocular pressure in glaucoma suspects, publicado na revista Vision Pan-America, apontou que o método de diagnóstico “curva diária de pressão intraocular” é o mais eficiente.

“Comparamos os cinco métodos porque ainda há controvérsia no meio médico sobre qual deles diagnostica o glaucoma de forma mais rápida e eficiente. Depois de três anos de pesquisas, percebemos que o método usado no Hospital São Geraldo (anexo do Hospital das Clínicas da UFMG), há 50 anos é, de fato, o mais indicado”, resume o professor Sebastião Cronemberger, do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina e principal autor do estudo.

Os primeiros relatos de curva diária de pressão datam de 1925. Por meio desse exame, o paciente com suspeita de glaucoma tem sua pressão intraocular medida várias vezes ao dia, começando pela manhã. “Essa medida, feita com o paciente no leito, às 6h da manhã e no escuro, é a mais importante”, explica o professor.

Segundo Cronemberger, a pressão intraocular elevada é uma das primeiras evidências do glaucoma. Num olho normal (não glaucomatoso), a variação da pressão intraocular durante o dia é menor do que aquela observada no olho do paciente com glaucoma. Assim, a medida da pressão intraocular várias vezes ao dia e, fundamentalmente, a primeira, antes do raiar do dia, é essencial para a precisão do diagnóstico.

“Só fazemos esse exame em casos selecionados, quando há dúvida se a pessoa tem glaucoma ou não. Se o paciente chega ao consultório com a pressão dos olhos muito maior do que a considerada normal, a gente nem faz o exame, porque já está claro que o paciente tem glaucoma”, explica.

Provocativos e ultrapassados
Os cinco exames de diagnóstico foram aplicados em 45 pessoas com suspeita de glaucoma e 30 saudáveis, todos pacientes do Hospital São Geraldo. Além do exame de curva diária de pressão intraocular, os pacientes fizeram dois testes provocativos (de sobrecarga hídrica e da ibopamina) que, segundo Cronemberger, estão ultrapassados.

“Fizemos também dois testes funcionais e dois tipos de perimetria (que mede o campo visual) - a de dupla frequência e a azul/amarelo. No de sobrecarga hídrica, o paciente bebia um litro de água em jejum e, posteriormente, medíamos a pressão intraocular a cada 15 minutos por uma hora. Este teste foi o mais falho, mas nós precisávamos testar todos eles para derrubarmos métodos ruins que, infelizmente, ainda são usados por alguns médicos”, diz o professor da Faculdade de Medicina.

Para Cronemberger, comprovar cientificamente a eficiência superior da curva diária de pressão intraocular pode contribuir para quebrar uma prática entre os profissionais da área, que tendem a preteri-la por ser mais trabalhosa.

“Alguns médicos optam pelos outros tipos de exames, uma vez que na curva diária de pressão intraocular é necessário ir à casa do paciente para realizar a primeira medição da pressão, que deve ser efetuada muito cedo”, diz o pesquisador, lembrando que se trata do método mais indicado para o diagnóstico precoce, evitando que a doença alcance estágio muito avançado.

Doença silenciosa
A cegueira irreversível pode ser a principal consequência do glaucoma, doença caracterizada pela elevação da pressão interna dos olhos, responsável pela lesão das células da retina e da escavação do nervo óptico.

“Quando a escavação se torna muito grande, a pessoa perde campo visual. Uma alteração inicial do campo visual significa que o paciente já perdeu quase metade das fibras nervosas da sua retina. Como essas fibras não podem ser recuperadas, a perda de visão pelo glaucoma é irreversível”, diz Sebastião Cronemberger.

Sem cura, só resta tratamento permanente aos pacientes com glaucoma. Isto é feito por meio do uso isolado ou associado de colírios que regulam a pressão intraocular. A cirurgia é indicada para os casos em que o tratamento não seja suficiente para normalizar a pressão. Como praticamente não existem sintomas na fase inicial do glaucoma, o professor Cronemberger alerta para que as pessoas procurem um especialista ao sentir qualquer tipo de desconforto na visão.

“O glaucoma é mais frequente em idosos e pessoas com parentes próximos portadores da doença. Excepcionalmente, alguns pacientes com pressão dos olhos elevada podem sentir um peso nos olhos’, informa.

Artigo: Provocative tests, functional exams and daily curve of intraocular pressure in glaucoma suspects
Autores: Sebastião Cronemberger, Nassim Calixto, Hélio Vieira Filho, Tiago Souza, Camila Souza, Roberto Gomes.
Publicado na revista Vision Pan-America e disponível aqui.

Luana Macieira/UFMG