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Experimentos realizados no Instituto Butantan, em parceria com cientistas do exterior, possibilitaram o desenvolvimento de uma formulação capaz de eliminar mais rapidamente os efeitos causados por picadas de abelhas em pessoas alérgicas ao veneno. Os pesquisadores desenvolveram lipossomas, elaborados a partir de lipídeos naturais, que podem acelerar o tratamento porque concentram o veneno em seu interior, diminuindo a dose necessária para se atingir o mesmo objetivo. Neste caso o objetivo é diminuir ou eliminar a sensibilidade ao veneno em pessoas alérgicas. É um tratamento chamado de Imunoterapia.
“Trata-se de uma iniciativa inédita no mundo, do que pode vir a ser uma imunoterapia e o processo já foi devidamente patenteado”, conta a professora Maria Helena Bueno da Costa, que é doutora pelo Instituto de Química (IQ) da USP. Os testes feitos com animais mostraram bons resultados e o próximo passo seria envolver experimentos em humanos.

Para desenvolver as doses experimentais, os pesquisadores utilizaram o veneno total da abelha. Sabe-se que os principais componentes do veneno das abelhas são a fosfolipase, presente em 12%, e a melitina, que representa 50% da composição. O veneno total foi encapsulado (incluídos dentro do lipossoma) em membranas artificiais produzidas em laboratório, os chamados lipossomas. “Os lipossomas são ‘nanocápsulas’ que podem concentrar grande quantidade de veneno no seu interior”, descreve a cientista. “O veneno foi modificado quimicamente para não causar danos nas membranas do lipossoma”, descreve Maria Helena, lembrando que os próprios lipossomas também passam por modificação na composição. Um excesso de inibidor de fosfolipase e de melitina foi adicionado ao filme lipídico usado para a produção dos lipossomas, garantindo, portanto, a sua estabilidade.

Estes lipossomas serão responsáveis pelo transporte da formulação no corpo humano, tornando mais rápido e eficiente o tratamento. “Acidentes com abelhas, apesar de raros, podem causar diversos sintomas em pessoas alérgicas causando, em casos extremos, até um choque anafilático”, descreve a pesquisadora.

Tratamento longo

Segundo a pesquisadora, os tratamentos convencionais em casos de picadas de abelhas que atingem pessoas alérgicas podem levar entre 4 e 5 anos. “Além de longo, é doloroso, porque o paciente é submetido a injeções do próprio veneno”, explica, lembrando que o índice de rejeição ao tratamento também é alto. “Em geral, o tratamento imediato envolve o uso de antialérgicos, adrenalina e cortisona”, conta Maria Helena. Portanto o uso de lipossomas contendo o veneno da abelha seria um tratamento profilático, preventivo.

Nos testes em laboratórios, os cientistas realizaram tratamentos em dois grupos de animais que receberam doses do veneno por um período de 120 dias. Após este período, o grupo submetido à formulação com as nanocápsulas (lipossomas) nada sofreu, na simulação de picada por uma abelha, enquanto o outro apresentou os sintomas de alergia severa e de choque anafilático.

Estes resultados, segundo a professora, já foram apresentados em diversos países, em congressos e reuniões científicas. Entre algumas publicações, a pesquisadora destaca o artigo Design of a Modern Liposome and Bee Venom Formulation for the Traditional VIT-Venom Immunotherapy. Os estudos, iniciados no ano de 2005, foram concluídos em 2010 e mais três artigos foram publicados em 2012.

A professora Maria Helena coordenou um projeto contando com um grupo de pesquisadores colaboradores como os professores Osvaldo A. Sant’Anna e Wagner Quintilio (Instituto Butantan), Reto Albert Schwendener (Paul Scherrer Institute e Institute of Molecular Cancer Research, University of Zurich, Suíça) e Pedro Soares de Araujo (IQ), e Gregory Gregoriadis (London University, Inglaterra).

As pesquisas tiveram o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Butantan, Paul Scherrer Institute (Suíça) e London University (Inglaterra).

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Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias