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Um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos indica que, em condições naturais, os filhotes de chimpanzés tendem a escolher brincadeiras diferentes de acordo com seu sexo, como ocorre em geral com as crianças humanas. Embora tanto os jovens chimpanzés machos como fêmeas brinquem com galhos, as fêmeas o fazem com mais frequência e, eventualmente, tratam os gravetos como se fossem mães chimpanzés cuidando de seus bebês. O estudo foi publicado na edição de dezembro da revista Current Biology, uma publicação da Cell Press. As descobertas sugerem, de acordo com os autores, que a tendência das meninas a brincar mais com bonecas que os meninos – um fenômeno observado de forma consistente em todas as culturas – não é apenas resultado de uma socialização estereotipada em relação ao sexo, mas é parcialmente proveniente de uma “preferência biológica”.
“Essa é a primeira evidência em uma espécie de animal em condições selvagens de que machos e fêmeas brincam com objetos de forma diferente”, disse um dos autores, Richard Wrangham, da Universidade de Harvard.

Estudos anteriores com macacos em cativeiro também sugeriam uma influência biológica na escolha dos brinquedos. Brinquedos humanos estereotipados em relação ao sexo foram oferecidos aos macacos filhotes e as fêmeas preferiam as bonecas, enquanto os machos se mostraram mais aptos a lidar com os “brinquedos de garotos”, como caminhõezinhos.

As novas observações foram feitas durante 14 anos, com a comunidade de chimpanzés Kanyawara, no Parque Nacional de Kibale, em Uganda, por Wrangham e pela coautora do estudo, Sonya Kahlenberg, do Bates College, no estado do Maine.

Os cientistas descobriram que os chimpanzés utilizam galhos de quatro maneiras diferentes: como sondas para investigar buracos que possam conter água ou mel, como apoio ou arma em confrontos agressivos, em brincadeiras solitárias ou sociais e em comportamentos descritos pelos pesquisadores como “carregamento de galhos”.

Wrangham afirmou que, ao longo dos anos de observação, a equipe de cientistas percebeu que o carregamento de galhos era visto de tempos em tempos. Eles suspeitaram que as fêmeas reproduziam esse comportamento com mais frequência que os machos. O estudo comportamental mais detalhado agora confirmou essa suspeita.

“Pensamos que, se os galhos estivessem fazendo o papel de bonecas, as fêmeas fariam o carregamento de galhos com mais frequência que os machos e que elas iriam parar de fazer isso quando tivessem seus próprios bebês. Agora descobrimos que ambas as hipóteses estavam corretas”, disse Wrangham.

De acordo com os cientistas, durante as observações os filhotes fêmeas às vezes levavam seus galhos para ninhos diurnos onde ficavam descansando e, eventualmente, brincavam com eles de uma maneira que evocava as brincadeiras maternas.

Não está claro ainda se essa forma de brincadeira é comum entre os chimpanzés. Até agora, ninguém havia descrito o carregamento de galhos como uma forma de brincadeira, apesar do interesse considerável, entre os pesquisadores que trabalham com chimpanzés, pela descrição de uso de objetos.

“Isso nos faz suspeitar que o carregamento de galhos é uma tradição social que se disseminou na nossa comunidade e não em outras”, disse Wrangham.

Como o carregamento de galhos é raro mesmo entre os chimpanzés de Kanyawara, estudados por Wrangham e Kahlenberg, eles não têm certeza se pesquisadores que estudam outras comunidades poderiam relatar a ausência do comportamento.

Eles comentaram que as brincadeiras de chimpanzés são geralmente descritas de maneira precária, pois as comunidades desses animais são normalmente pequenas e com poucos filhotes ao mesmo tempo.

Se for descoberto que o carregamento de galhos é algo único dos chimpanzés de Kanyawara, será “o primeiro caso de uma tradição mantida apenas entre os filhotes, como as cantigas infantis entre os humanos”, de acordo com Wrangham. “Isso indicaria que as tradições comportamentais dos chimpanzés são mais parecidas do que imaginávamos com as humanas”, afirmou.

O artigo Sex differences in chimpanzees' use of sticks as play objects resemble those of children (doi:10.1016/j.cub.2010.11.024), de Richard Wrangham e Sonya Kahlenberg, pode ser lido por assinantes da Current Biology em www.cell.com/current-biology.

Agência FAPESP