A obra, publicada com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Publicações, traz nove ensaios escritos por Bastos, entre 2004 e 2011, que refletem sobre como o surgimento de novas tecnologias transformou a arte e a cultura, abordando o conceito de “cultura remix”.
“Trata-se de uma tendência contemporânea que começa pela música eletrônica e que se expande, aparecendo no vídeo e na literatura. O remix consiste no uso de materiais preexistentes para a produção de novas obras, modificando suas características e, a partir disso, criando novas expressões artísticas, que deixam marcas das referências iniciais.”
Dessa forma, o livro aborda como as práticas de “copiar e colar”, nas palavras do autor, transformaram a música, a literatura, o audiovisual e outras expressões artísticas e culturais, tratando ainda de aspectos relacionados aos direitos autorais, especificamente quanto ao sentido de autoria.
“Essas práticas existem há algum tempo, mas o advento das mídias digitais facilitou o processo de apropriação de referências artísticas”, diz.
Como exemplos, Bastos cita as obras Garrafa de Suze (1912), de Pablo Picasso, que se apropria de elementos tipográficos de um jornal para compor a tela, e Fenómeno do Êxtase (1933), de Salvador Dalí, uma montagem com recortes de fotografias e frames de filmes.
“Com o computador, essa apropriação para fins artísticos cresceu em intensidade, tornando-se uma prática contemporânea bastante disseminada como consequência da digitalização. Os ensaios fazem uma tentativa de encontrar elementos para propor uma análise crítica do que, nessa cultura, tem mais ou menos pertinência.”
Os textos tratam ainda de novas plataformas para manifestações artísticas, como a game art, que utiliza jogos eletrônicos.
“Os ensaios sobre essa temática abordam novas tendências de design, avaliando, por exemplo, como um dispositivo como um iPad modifica uma série de noções da área. São analisados exemplos da game art de maneira provocativa, propondo o desafio de se pensar a linguagem dos jogos para além dos padrões instituídos, enriquecendo suas sintaxes, encontrando novos formatos e levando a experimentações de novas possibilidades.”
Há ainda um ensaio a respeito das linguagens artísticas em tempo real, como a performance audiovisual e o cinema ao vivo, relacionado a suas pesquisas mais recentes na área.
Os textos abordam também aspectos sociais transformados com o surgimento das redes de computadores, em especial a Internet.
“Uma série de características culturais, econômicas e políticas são típicas desse momento em que as pessoas têm uma capacidade de conexão maior entre elas, o que acaba mudando práticas de consumo, hábitos e a maneira como produzem linguagens.”
Para o autor, há uma volta à lógica da comunicação de massa nas redes sociais.
“Há uma reconfiguração do conceito de mídia de massa na cultura em rede, mas o elemento da audiência em canais de autopublicação acaba levando, em certa medida, a um regresso à ideia de grandes audiências dos meios tradicionais, como a televisão”, avaliou.
O livro abre espaço para ponderações sobre a velocidade com que as práticas nos meios digitais se transformam. Fazendo referência à obra Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino, o autor escreve Seis propostas para os próximos minutos, refletindo em especial sobre novos formatos audiovisuais.
“Quem pesquisa nessa área em que a cultura gera novas possibilidades e formatos fica com a sensação de uma certa vertigem, porque tudo muda muito rápido. Este texto procura fazer análises de certos trabalhos que investigam possibilidades em vídeos interativos, mas é necessária uma constante revisão de conceitos. Navegar é preciso, documentar é impreciso.”
Limiares das redes: escritos sobre arte e cultura contemporânea
Autor: Marcus Bastos
Lançamento: 2014
Preço: R$ 35
Páginas: 144
Mais informações: Editora Intermeios
Agência FAPESP