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(Tsuneharu Ogasawara - UFRJ) - A estratégia de defesa marítima ou aérea de qualquer país é fortemente baseada no uso de dispositivos que possibilitam a detecção de um alvo. Contudo, o que aconteceria se houvesse uma forma de “enganar” os dispositivos?  Buscando dificultar ou minimizar a detecção ou visualização ótica, acústica ou por meio de radar, foram criadas técnicas apropriadas de camuflagem, que incluem o emprego de materiais absorventes, mais conhecidos como materiais anti-radar.
O avião invisível foi inventado pelos Estados Unidos em 1958 e, desde então, recebe contínuos aperfeiçoamentos dos americanos e de outros países desenvolvidos que têm interesse em ampliar sua capacidade bélica de defesa e ataque. O Brasil trabalha nesta área há muitos anos nos âmbitos da Aeronáutica (CTA/ITA, em São José dos Campos/SP) e da Marinha (IPqM, Ilha do Governador, Rio de Janeiro/RJ, existindo intercâmbio em Engenharia de Materiais com a Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Em linguagem simplificada, as radiações eletromagnéticas (EM) do radar emitidas por uma fonte só enxergam o alvo (um avião, um navio etc.) quando este está “de frente” para a direção de onde vêm as ondas. Ao atingirem o alvo, as ondas são refletidas de volta para a fonte e o objeto é detectado. Se o alvo for muito delgado, como uma chapa fina, e estiver de perfil, o radar verá  apenas uma pequena tira correspondente à espessura da chapa; a maior parte da radiação passará direto e se perderá no infinito, na “escuridão eletromagnética”. Agora, se a referida tira do perfil da chapa estiver recoberta por uma película absorvedora de radar, a radiação incidente nesta superfície poderá ser completamente aniquilada e a fonte das ondas não receberá nenhum sinal em retorno.

Os dois princípios básicos de camuflagem anti-radar são: um recobrimento absorvedor de radar (“RAM = Radar Absorbing Material”, uma tarefa dos engenheiros de materiais) e o projeto e construção de aviões e navios com um mínimo de “superfície de frente para o radar” ou Seção Reta Radar (“RCS = Radar Cross-Section”). Corpos delgados e superfícies suficientemente inclinadas em relação à direção das ondas do radar incidente ajudam a alcançar tal configuração. A tecnologia global neste contexto é conhecida como “STEALTH TECHNOLOGY” ou Tecnologia de Camuflagem contra radiações eletromagnéticas (microondas incluindo as ondas de radar, infravermelho e outros comprimentos de onda) e contra as ondas sonoras usadas num SONAR submarino.

Para que seja invisível a radares, toda a superfície do navio que permanece exposta acima da água deve ser revestida com o material. A radiação incidente do radar ao alcançar a superfície de um alvo pode ser  absorvido/aniquilado de três maneiras distintas:

1)      Por interação magnética com o material absorvedor pelo qual a energia da radiação é dissipada nesse material absorvedor sob forma de calor e não retorna à fonte emissora;

2)      Pela interação dielétrica semelhante àquela que acontece quando um alimento é aquecido pela energia de microondas num forno microondas doméstico, onde a energia de microondas é liberada em forma de calor e não retorna mais à fonte emissora;

3)      Pela condução de corrente elétrica no material absorvedor em direção à estrutura do navio, por exemplo, em que a energia da onda eletromagnética do radar é consumida na geração da referida corrente elétrica no material e não mais volta à fonte emissora.

O fenômeno real é bem mais complexo do que esta explicação simplificada e os materiais absorvedores costumam ser híbridos ou mistos, conjugando as três formas de dissipação da energia do radar neles. Eles devem ainda ser o mais leve possível, bem aderente à estrutura militar a ser protegida, possuir resistência mecânica para resistir ao esmagamento e ter estabilidade química/eletroquímica no ambiente onde trabalha.

Tsuneharu Ogasawara é Coordenador do Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica da UFRJ.