Imprimir
Ciência e Tecnologia
Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Há muito tempo os pesquisadores sabem que o câncer é uma doença genética, ou seja, resultado de um acúmulo de alterações no genoma causadas ao longo da vida pelo envelhecimento, por fatores hereditários ou por agentes externos como radiação e tabaco. Somente nos últimos anos, porém, graças à evolução e ao barateamento das metodologias de sequenciamento e de análise do perfil de expressão dos genes, os cientistas estão conseguindo desvendar as alterações específicas por trás de cada tumor.
De posse dessas informações, os médicos podem prever, por exemplo, o grau de agressividade do tumor, sua capacidade de se disseminar para outros órgãos e sua sensibilidade a determinados tipos de drogas – o que permite planejar novas estratégicas terapêuticas de forma personalizada.

O tema foi abordado por Rogelio González-Sarmiento, do Centro de Pesquisa em Câncer da Universidade de Salamanca (Usal), no dia 11 de dezembro, durante o evento “Fronteras de la Ciencia – Brasil y España en los 50 años de la FAPESP.

O simpósio integra as comemorações dos 50 anos da FAPESP e reúne, nas cidades de Salamanca (10 a 12/12) e Madri (13 e 14/12), pesquisadores do Estado de São Paulo e de diferentes instituições de ensino e pesquisa do país ibérico, em uma programação intensa, diversificada e aberta ao público.

“As técnicas de sequenciamento de nova geração têm permitido aos pesquisadores, em laboratórios, redefinir as classificações dos tumores com base em critérios moleculares. Essa mudança de paradigma está modificando a estratégia terapêutica dos oncologistas”, disse Sarmiento.

Além das alterações genéticas propriamente ditas – que são aquelas em que ocorre modificação na sequência do DNA, como as mutações pontuais, deleções, inserções e os rearranjos cromossômicos –, as alterações epigenéticas também podem ser causa de câncer, de acordo com Manel Esteller, diretor do Programa de Epigenética do Instituto de Investigação Biomédica de Bellvitge, em Barcelona.

“Podemos imaginar que o genoma é o hardware de nosso computador e a epigenética é o software que faz esse hardware funcionar”, disse Esteller à Agência FAPESP.

Por essa razão, acrescentou o pesquisador, gêmeos idênticos podem desenvolver doenças diferentes, apesar de compartilharem o mesmo DNA. “Eles têm o mesmo hardware, mas diferentes softwares. São alterações químicas que regulam a expressão dos genes”, disse.

Entre as alterações químicas conhecidas, a mais importante é a metilação do DNA, reação que envolve a adição de um grupo metil (CH3) a determinadas partes do DNA e muda o padrão de expressão dos genes.

“É um processo fisiológico de regulação dos genes. Por exemplo, as células do nosso cérebro têm o mesmo DNA que as células do nosso coração, mas têm diferentes funções. Em boa medida, isso ocorre graças à metilação do DNA. O que acontece no câncer é que existe uma mudança global na metilação do DNA e isso cria um software corrompido”, explicou Esteller.

As causas das alterações epigenéticas são, segundo o pesquisador, muito parecidas com aquelas responsáveis pelas modificações na sequência do DNA. Entre elas uma das mais importantes é o envelhecimento.

“É possível medir a idade biológica de uma pessoa ao analisar o perfil de metilação de DNA. Ao longo da vida passamos por experiências que mudam nossas células. O processo de metilação do DNA diminui e isso deixa os cromossomos mais frágeis e mais fáceis de serem corrompidos”, disse Esteller.

Apenas alguns poucos genes – e justamente aqueles responsáveis por nos proteger contra o câncer – passam a sofrer mais metilação devido ao envelhecimento e têm sua expressão bloqueada. “Nos países desenvolvidos, a idade é hoje o maior fator de risco para o câncer”, disse.

Agência FAPESP