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Ciência e Tecnologia
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Parafraseando o poeta William Blake (1757-1827), que falava em ver o mundo em um grão de areia, dá para dizer que um trio de físicos brasileiros acaba de enxergar o Universo em um copo de leite. Para além dessa metáfora, pesquisadores da Unesp  e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) demonstraram ser possível estudar fenômenos ocorridos na superfície de um buraco negro por meio da observação de microvibrações em líquidos.
Gastão Krein, pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT), da Unesp, Nami Svaiter, pesquisador do CBPF, e  Gabriel Menezes, ex-aluno de doutorado de Svaiter e atualmente pós-doutorando no IFT, apresentaram suas conclusões na revista Physical Review Letters, dos EUA — a mais importante da física. O artigo Modelo análogo para efeitos de gravidade quântica: fônons em fluidos aleatórios, publicado online em 20 de setembro, chama a atenção para a semelhança entre dois fenômenos regidos por equações matemáticas muito parecidas.

O primeiro fenômeno, relativamente conhecido e estudado em laboratório, acontece em coloides— líquidos presentes no nosso cotidiano, como o leite. O outro, ainda especulativo, é quase impossível de ser observado por ocorrer em ambientes de acesso improvável, como o interior de um buraco negro —região do espaço cuja força da gravidade é tão grande que nada pode escapar dali. Em regiões como essa, predominam as leis da gravitação quântica, por cujos princípios seria possível entender como a força da gravidade se comporta em escalas de trilionésimos de trilionésimos de vezes menor que a atômica.

"Seria possível fazer um experimento [com o coloide] e aprender algo sobre a gravitação quântica", explica Krein. A ideia da pesquisa surgiu de conversas durante visitas de Svaiter ao IFT no ano passado. Ele e o físico Lawrence Ford, da Universidade Tufts, em Medford (Massachusetts), nos EUA, vêm estudando como efeitos quânticos da gravitação que seriam importantes em situações extremas, como o início do Universo, durante o Big Bang, fariam o valor da velocidade da luz no vácuo flutuar, violando o famosos princípio da relatividade clásica segundo o qual a velocidade da luz no vácuo é constante.

Universo no laboratório

Krein, Menezes e Svaiter demonstraram que essa flutuação da velocidade da luz é matematicamente idêntica à flutuação na velocidade de propagação de vibrações sonoras microscópicas em coloides. Mas, ao contrário do efeito de gravitação quântica, a velocidade do som variável em coloides tem uma causa bem conhecida—o movimento aleatório das partículas suspensas na solução—, e suas consequências podem ser medidas em laboratório. Uma maneira de observá-las seria, por exemplo, analisar como feixes de luz são espalhados pelo líquido.

Os pesquisadores calculam agora o que seria o equivalente de um buraco negro em um coloide e como vibrações sonoras quânticas são criadas e destruídas na vizinhança dessa área. Eles buscam um maior entendimento do fenômeno conhecido como "radiação Hawking". Em 1973, o físico Stephen Hawking (1942 -   ) previu que os buracos negros encolhem com a perda de energia por meio dessa radiação.

Assessoria de Comunicação e Imprensa Unesp