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Ciência e Tecnologia
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Uma bactéria, duas variedades de arroz, um tipo de eucalipto e, ao final, 12 bilhões de bases de dados. Esse é o resultado do mapeamento do genoma dessas quatro espécies. O material é fruto das primeiras pesquisas realizadas pelo Centro de Genômica de Alto Desempenho do Distrito Federal, inaugurado nesta quarta-feira, dia 31. A genômica é o estudo de todos os genes de um ser vivo por meio de tecnologias de última geração.
Financiado com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e implantado no campus do Plano Piloto da Universidade Católica de Brasília, o laboratório é fruto de parceira com a Universidade de Brasília, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) e Polícia Civil do Distrito Federal.

Criado para apoiar projetos científicos e prestar serviços na área genômica no Brasil e na América Latina, o centro já está em uso pelos parceiros do projeto desde fevereiro deste ano e será aberto também a outros institutos de pesquisa públicos e privados, além de prestar serviços para instituições nacionais e internacionais. O investimento na compra dos equipamentos e implantação do laboratório foi de quase R$ 5 milhões. “É muito difícil investir recursos dessa ordem em um projeto de ciência”, comentou a diretora da FAP-DF, Maria Amélia Teles, durante o lançamento do Centro de Genômica. “Infelizmente, não temos ainda em nosso país uma cultura que valorize a importância científica, por isso esse é um passo importante”.

Segundo o secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, Izalci Lucas, para atrair pesquisas para o Centro de Genômica, o edital do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), do Ministério da Ciência e Tecnologia, será direcionado a projetos de biotecnologia e nanotecnologia. “Praticamente todos os recursos disponíveis no edital, que são de R$ 30 milhões, serão para essas áreas”, revelou. Vinte e seis projetos de pesquisadores já foram aprovados dentro do edital, entre eles da UnB.

A coordenadora do Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB em Desenvolvimento Institucional e Inovação, Célia Ghedini, lembrou que o sequenciamento de genomas permitiu um aceleramento das descobertas científicas sem precedentes. “Esse Centro é o preâmbulo de um desenvolvimento científico no Centro-Oeste nunca antes vislumbrado”.

Um dos coordenadores do Centro de Genômica, Dario Grattapaglia, professor da Universidade Católica de Brasília, explica que os seqüenciadores de genomas permitem revelar a variação genética entre indivíduos de diferentes espécies. “O que queremos como isso é entender os processo biológicos complexos em seres vivos, mas principalmente prever o futuro e manipulá-lo”, afirmou.

Outro pesquisador envolvido na criação do laboratório, Ricardo Henrique Kruger, da Universidade de Brasília, enumera alguns benefícios do mapeamento genético, como a identificação de bactérias e vírus causadores de doenças, o melhoramento genético de plantas, e a análise da composição do solo, permitindo verificar aqueles que permitem melhor desempenho de plantio. “No Distrito Federal, por exemplo, temos diarréias infantis que sabemos que são virais, mas não conhecemos ainda o vírus. Os seqüenciadores de DNA, ao mapear o genoma das crianças doentes e compará-lo com o de crianças sadias, facilitarão a identificação do vírus”, explicou.

O professor da UnB, Fábio Pittela, chama a atenção para a necessidade de investimento na formação dos pesquisadores para o uso da nova tecnologia. “Os sequenciadores geram uma montanha de dados. Por isso, o pesquisador tem de saber bolar muito bem o experimento, assim como interpretar os dados”.

A idéia de criação do Centro de Genômica partiu do ex-professor da UnB e atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, Rui Campos. O projeto foi apresentado à FAP-DF em dezembro de 2007. Em janeiro de 2009, a proposta foi aprovada e os recursos liberados. Dez meses depois, o primeiro seqüenciador de genoma foi instalado e, em fevereiro de 2010, realizado os primeiros experimentos. “O mapeamento de duas variedades de arroz, por exemplo, gerou novas ferramentas e abordagens para o melhoramento genético desse grão no cerrado”, contou o professor.

O primeiro mapeamento feito no mundo foi do genoma humano, em 2001. O projeto durou 13 anos, envolveu 2,8 mil cientistas, 16 institutos, 6 países e custou US$ 2,7 bilhões.

UnB Agência