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A região da Sicília, na Itália, foi dominada entre os séculos V e III a.C. pelos cartagineses, povo originário do norte da África. Pesquisa da Universidade de Brasília revela que sua cultura foi fortemente influenciada por mercenários gregos contratados para expandir seus domínios e se defender de outros povos que habitavam a região. Os guerreiros trouxeram a cultura helenística - que surgiu da mistura cultural entre gregos e povos do oriente durante o império de Alexandre, o Grande. "O espartano Xântipo, por exemplo, destacou-se dentro de um grupo de 50 gregos contratados por Cartago por causa de seus conhecimentos militares, herdados dos exércitos de Alexandre", explica Henrique Modanez, autor da tese de doutorado Entre Reis, Tiranos e Generais: imitatio Alexandri e dispositivos táticos no ocidente helenístico, 323-255 a.C. O período escolhido por Henrique marca justamente o intervalo entre a morte de Alexandre e o início do período helenístico, em 255 a.C.
Segundo o pesquisador, Xântipo não foi um caso isolado. Outros gregos também foram responsáveis pela transferência da cultura helenística para a civilização cartaginesa. "Como os mercenários tinham origens diversas - da África até regiões da Líbia - acabavam por trazer inovações culturais desses lugares", explica Henrique. Por tudo isso, essa interação cultural aconteceu com mais intensidade em Cartago."Os cartagineses tinham tradição militar fraca e aproveitaram o conhecimento dos mercenários".

As trocas culturais ocorriam inclusive entre inimigos. Os generais gregos Agatócles de Siracusa e Pirro de Épiro lutaram contra Cártago, imitando Alexandre, o Grande, na forma como conduziam suas conquistas e no desejo de dominação cultural sobre os povos. “Esse intercâmbio ocorre na guerra mesmo entre lados  opostos”, esclarece Henrique. “Além disso, Agatócles também empregava tropas mercenárias e teve um papel importante na transferência desse conhecimento”, conta. “Pirro, por sua vez, foi o líder que mais se aproximou de Alexandre nas estratégias de guerra.”

ELEFANTES – A prática de contratar mercenários era comum naquela época. A diferença é que, em Cartago, todo o Exército era contratado de outras regiões. “Dentre os conhecimentos helenísticos incorporados destaca-se, por exemplo, o uso de elefantes em combates”, explica Henrique. No treinamento do Exército de Cártago, os comandos dados eram em grego.

Segundo o orientador da pesquisa, Vicente Dobroruka, a Universidade de Brasília entrou na vanguarda das pesquisas na área com a tese de Henrique. A história só recentemente se debruçou sobre essa influência cultural dos profissionais da guerra. “Nesse sentido a tese de Henrique inova por levar em conta o papel dos mercenários”, elogia o professor.

Segundo o professor Vicente, o valor de estudos como esse está em mostrar como a cultura helenística chegou ao ocidente bem antes do que se pensava, quando Roma anda começava a se expandir. Henrique explica ainda que os estudos na área só tornaram-se mais sistemáticos a partir do final da década de 90. O período estudado - correspondente à primeira Guerra Púnica, conflito que opôs Cartago a Roma - também recebia pouca atenção na Academia. “Até agora os estudos concentravam-se apenas na Segunda Guerra Púnica – a partir da atuação do líder cartaginês Aníbal Barca”, destaca.

Cartago entrou em conflito também com a república nascente de Roma, com planos de expansão no mediterrâneo. Os romanos acabaram por sobrepujar os cartagineses com a destruição da cidade no século II a.C.

Cartago era uma cidade do norte da África que chegou a controlar chegou a dominar regiões da Espanha, Sardenha e Corsega. O povo cartaginês expandiu-se entre os séculos V e III a.C., controlando também durante esse período a ilha de Sicília, ao sul da peninsula itálica. Comerciantes e com profundo conhecimento marítmo, bateram-se durante esse período com os gregos da ilha, que habitavam principalmente a região da cidade de Siracusa na metade leste. Esse foi o contexto em que Henrique situou sua tese. Um período de conflitos focando-se especialmente no embate entre os dois povos.

Para fazer sua pesquisa, Henrique se baseou em historiadores gregos e romanos. Foram quase 40 fontes, muitas vezes textos pequenos e até mesmo parágrafos isolados. “Busquei formular hipóteses plausíveis a partir da unificação de relatos diversos”, afirma Henrique. Parte da pesquisa foi realizada em Berkeley, na Universidade da Califórnia, por meio do doutorado sanduíche.

alessandro-magnoO GRANDE INSPIRADOR – No período estudado por Henrique, todos aspiravam ser como Alexandre, o Grande. Alexandre tornou-se rei da Macedônia aos 20, após a morte de seu pai, Felipe II. Apesar de já ter participado de ações militares, Alexandre era considerado um jovem culto. Aristóteles, um dos maiores filósofos da Antiguidade, foi seu professor. Em 334 a.C, conquistou o litoral da Ásia Menor, marchou contra a Síria e derrotou o exército Persa na batalha de Isso. A cidade portuária de Tiro, considerada inconquistável, também foi dominada.

Em seguida, Alexandre seguiu para o Egito, onde não encontrou resistência. Lá, foi considerado um libertador, pois livrou os egípcios do domínio persa. Na ocasião, fundou a cidade de Alexandria, que se tornou sede de uma das maiores bibliotecas da Antiguidade e um importante centro cultural. Do Egito, Alexandre marchou com seus soldados em direção à Mesopotâmia.

Como resultado dessas e outras campanhas, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia ao rio Indo. As conquistas do rei aproximaram o Ocidente do Oriente, dando origem a cultura helenística. A mistura cultural era incentivada por Alexandre, que não se opunha às diferentes religiões e incentivava que homens orientais se casassem com mulheres ocidentais.

UnB Agência