Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Vem do Weizmann Institute of Science, em Israel, uma das mais recentes descobertas no controle do desenvolvimento do câncer: a de que os tumores crescem de forma mais acelerada à noite, o que poderia levar a uma nova sistemática na administração de medicamentos. Essa e outras frentes de pesquisas, conduzidas na cidade israelense de Rehovot e no Estado de São Paulo, foram apresentadas em workshop realizado com o apoio da FAPESP nos dias 29 e 30 de outubro, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na capital paulista.
O objetivo do evento foi promover iniciativas de colaboração em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico no âmbito de acordo de cooperação firmado entre a FAPESP e o Weizmann Institute of Science em setembro.

“Trouxemos ao Brasil alguns dos nossos trabalhos que podem oferecer importantes oportunidades de parceria para os pesquisadores brasileiros, mas também o Brasil nos interessa muito, com sua excelência em diversas áreas relacionadas às nossas pesquisas”, disse Rony Seger, chefe do Departamento de Regulação Biológica e do Willner Family Center for Vascular Biology, à Agência FAPESP.

Entre as pesquisas realizadas no instituto israelense apresentadas no workshop, esteve a que levou à descoberta sobre o crescimento dos tumores durante o sono, coordenadas por Yosef Yarden, também do Departamento de Regulação Biológica.

Os pesquisadores examinaram dois receptores celulares: um responsável pelo crescimento das células, inclusive as cancerosas, e outro que se liga ao hormônio glicocorticoide, relacionado à energia do corpo durante o dia.

“Observamos que a atividade do receptor do fator de crescimento epidérmico [EGFR, na sigla em inglês] aumenta à noite, quando a produção de glicocorticoide é menor, e diminui durante o dia. Uma adequação dos horários de administração dos medicamentos poderia aumentar a eficiência do tratamento”, disse Yarden.

Alguns tipos de cânceres usam os receptores de EGFR para se espalhar. Diante disso, os pesquisadores do grupo de Yarden administraram medicamentos que inibem esses receptores em camundongos com câncer, observando diferenças no comportamento das células durante o sono e os momentos em que os animais estavam acordados.

Melatonina

Em São Paulo, também foram feitas importantes descobertas relacionando o crescimento das células cancerosas ao sono. Pesquisas conduzidas por Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biociências da USP, possibilitaram a compreensão de que o organismo produz o hormônio melatonina em locais com inflamação. Produzida pela glândula pineal, a melatonina tem seus níveis aumentados em ambientes escuros, estimula o sono e funciona também como importante anti-inflamatório.

“A melatonina já tem uma série de aplicações, principalmente na cronobiologia, que estuda fenômenos biológicos que ocorrem em uma periodicidade determinada, sendo importante no controle da proliferação e da migração celular. Se soubermos se as células cancerosas são capazes ou não de responder à melatonina, podemos avançar na ideia de tornar o ambiente celular propício a responder a outros fármacos”, disse Markus.

O grupo de Markus já trabalhou em parceria com pesquisadores do Weizmann Institute. O doutorado “Eixo imune-pineal: efeito da poluição atmosférica urbana sobre a função pineal”, realizado com apoio da FAPESP por Cláudia Emanuele Carvalho de Sousa, teve período sanduíche com o grupo do pesquisador Tsvee Lapidot, que também participou do workshop.

“Cada pesquisador trouxe a este encontro um conceito de uma nova terapia. Enquanto uma abordagem com drogas únicas precisa de doses altas para produzir um bom efeito, uma terapia sobre proliferação e migração e o estudo de diferentes mecanismos que inibem isso podem levar a doses menores, nunca administrando doses tóxicas. A interação com o Weizmann Institute nos oferece muitas possibilidades nesse sentido”, disse Markus.

Lapidot tratou das pesquisas conduzidas em Israel com células-tronco, que levaram, entre outras conquistas, à descoberta de mecanismos que permitem que essas células saiam da medula óssea para a corrente sanguínea. Os resultados podem aumentar as chances de sucesso em transplantes de células-tronco, que precisam ser estimuladas a migrar para o sangue.

“Sabíamos que a proteína SDF-1 fixa as células-tronco na medula óssea ativando moléculas de adesão. Em nossas pesquisas descobrimos que o biofármaco G-CSF tem um mecanismo de atuação que diminui a quantidade dessa proteína na medula, fazendo com que as células-tronco percam sua ‘âncora’ e sigam o fluxo sanguíneo”, explicou.

Oportunidades

O workshop contou ainda com apresentações de pesquisas conduzidas no Weizmann Institute por Valery Krizhanovsky, do Departamento de Biologia Celular Molecular; Orly Reiner, do Departamento de Genética Molecular; e Zvulun Elazar e Rivka Dikstein, do Departamento de Química Biológica.

De São Paulo, apresentaram-se também os pesquisadores Sérgio Verjovski-Almeida e Deborah Schechtman, do Instituto de Química da USP; Sara Saad, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Thiago Mattar Cunha e José Carlos Alves-Filho, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP; e Kleber Franchini, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).

De acordo com Roger Chammas, professor da FMUSP e membro da Coordenação de Área de Saúde da FAPESP, que participou da organização do workshop, os campos de pesquisa abordados nas apresentações foram definidos de acordo com os interesses mútuos dos pesquisadores brasileiros e de Israel. “Fizemos um mapeamento e juntamos pesquisadores que têm muito a colaborar com os grupos aqui representados. Há muita atividade em inflamação, células-tronco, leucemia, cânceres, todas áreas quentes com muitos pesquisadores brasileiros em atuação”, disse.

A ideia, destacou Chammas, foi fomentar a interação entre os grupos para edital conjunto que deve ser lançado pela FAPESP e pelo Weizmann Institute.

Agência FAPESP