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darcy-ribeiroAs diversas facetas de Darcy Ribeiro – inclusive a permanente, de um brasileiro apaixonado pelo seu país – estão à mostra em uma coleção com fragmentos de textos inéditos do antropólogo, que será lançada pela Editora UnB até o fim do mês. Confissões, desabafos e opiniões de um dos maiores intelectuais do país e fundador da Universidade de Brasília fazem parte da coleção Darcy no Bolso, que apresenta 10 livros em formato pocket com bastidores do pensamento e obra do gênio. Uma das raridades contidas nas páginas da coletânea é a carta escrita pelo pai do antropólogo, Seu Naldo, para pedir em casamento Dona Fininha Silveira.
O manuscrito data de 24 de outubro de 1920, dois anos antes de Darcy nascer. “Pensa a Sra. em casar-se comigo? (...) Perdoe Dona Fininha, que lhe faça estas perguntas, mas é que a incerteza em que tenho vivido até agora não pode continuar, por isso espero e conto certo que me responderás (...)”, escreveu Seu Naldo.

O amor dos pais, que gerou dois filhos nos dois anos que seguiram a carta – Darcy foi o segundo – é analisado com descrença no irreverente texto De seus bagos vim, um dos que compõe o livro Lembrando de mim. “Como era belo o amor de antigamente. Respeitoso, solene e até tolo. Coitado de mim que nunca alcancei essa grandeza de coração. No meu tempo ele já era uma víscera que se podia cortar, emendar com plástico e até substituir por um coração de porco”, escreveu Darcy.

A inquietude do educador que revolucionou o conceito de universidade no Brasil fica explícita no texto Consciência alienada, parte do livro A América Latina existe?. No manuscrito, Darcy provoca os leitores. “Não se precipite em face de nossa pobreza, envaidecendo-se de ser civilizadíssimo e servido de bens culturais admiráveis. Assim é, efetivamente. Mas eu prefiro a nossa pobreza à sua opulência terminal de quem já terminou o que tinha de fazer no mundo e, agora, usufrui o criado”.

HOMENAGEM – “A crença no Brasil e no povo brasileiro, somada à postura visionária, o transformaram em um dos mais fecundos intelectuais latino-americanos do século XX”, afirma Paulo Ribeiro, sobrinho do antropólogo e presidente da Fundação Darcy Ribeiro. A entidade, com sede no Rio de Janeiro, e o Ministério da Cultura são parceiros da UnB no lançamento do material até então escondido no gigantesco acerco do antropólogo, que conta com cerca de 80 mil documentos catalogados.   

O lançamento da coleção é uma forma de homenagear o homem que tirou a UnB do papel em abril de 1962. A ideia surgiu em 2008, quando a atual gestão da Universidade começou os preparativos para os 50 anos da capital federal. “O reitor José Geraldo perguntou qual seria a contribuição da Editora UnB para a data. Na hora pensei em algo sobre Darcy Ribeiro, que também criou a Editora ao fundar a universidade”, lembra o professor e diretor da editora, Norberto Abreu.

A proposta logo foi aceita pela Fundação Darcy Ribeiro, que colocou à disposição textos inéditos do acervo. A seleção do material para a coleção em formato de fácil manuseio ficou por conta do escritor e jornalista Eric Nepomuceno. “Pretendemos colocar Darcy no bolso e na cabeça dos brasileiros, em especial dos jovens, na expectativa de que, na sua ânsia pelo saber, venham a participar ativamente da construção de um novo Brasil”, comenta Paulo Ribeiro.

Ao todo serão 10 mil unidades da caixa, cada uma contendo 10 exemplares com cerca de 100 páginas cada. Metade será comercializada pela Editora UnB e a Fundação Darcy Ribeiro. O restante será distribuído pelo governo federal por bibliotecas públicas do país. “Estamos esperando os primeiros exemplares chegarem da gráfica nos próximos dias”, adianta Norberto. “A proposta é disponibilizar o material a um preço acessível”, completa o professor, destacando que também haverá venda avulsa.

BATE-PAPO – Na contracapa do livro Vida, minha vida, Eric Nepomuceno, conselheiro da Fundação Darcy Ribeiro e parceiro do antropólogo, dá o tom dessa viagem pela vida do jovem, do político, do contestador e do educador, sem esquecer nenhuma faceta do amigo. "Ele era tão único, tão ele mesmo, que jamais poderia escrever memórias. Escrevia confissões. Ler estas páginas é como estar conversando num tarde vadia em Copacabana com um homem que quis viver a vida como viveu: espremendo a vida até a última gota".


TEXTOS INÉDITOS

– A América Latina existe?
– O Brasil como problema
– Lembrando de mim
– Revivendo o que vivi
– Falando dos índios
– Vida, minha vida
– Meu índios, minha gente
– Jango e eu
– Golpe e exílio
– A volta por cima

UnB Agência