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Ciência e Tecnologia
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Das Cataratas do Iguaçu ao Parque Estadual de Vila Velha, passando pela ainda pouco explorada Bacia Sedimentar de Curitiba. O patrimônio geológico do Paraná, considerado rico e diversificado, está prestes a se tornar mais conhecido, inclusive por leigos. Um grupo de pesquisa de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) trabalha na realização de um inventário inédito, que, quando pronto, será o segundo da história do país. 
Hoje, em escala estadual, somente São Paulo tem registros sistematizados de sua geodiversidade. A prática é mais difundida nos países europeus. E foi por lá que o estudo realizado no Grupo de Pesquisa em Geoconservação e Patrimônio Geológico começou. A partir de métodos aplicados lá fora, a pesquisadora Fernanda Caroline Borato Xavier produziu adaptações a serem aplicadas no Brasil. Sob orientação do professor Luiz Alberto Fernandes ela chegou a mais de 260 pontos de interesse.

Geossítios são lugares de interesse geológico que ajudam a explicar a formação do planeta, daí a importância de conhecê-los e conservá-los. “Um inventário é de interesse do Paraná porque não conhecemos o patrimônio geológico do estado e é preciso conhecê-lo para planejar ações de gestão”, explica Fernandes.

O trabalho de Xavier consiste em adaptar os métodos utilizados fora do país, localizar os geossítios a partir de pesquisa bibliográfica, entrevistar professores e pesquisadores sobre as características e relevâncias destes pontos e ir a campo para inventariá-los. O inventário terá um ranking com avaliações sobre o interesse científico, didático, turístico e a vulnerabilidade do local.

A Bacia Sedimentar de Curitiba, transformada no Parque Paleontológico Formação Guabirotuba, será um dos destaques do inventário. Com o que já se conhece sobre o local, área de 16 hectares que é considerada um tesouro paleontológico por conta do registro de fósseis de animais vertebrados, é possível assegurar alto interesse científico e didático. “É um dos 20 lugares da América do Sul com registro, de um dos três do Brasil com vertebrados de 40 milhões de anos”, explica Fernandes. Já os pontos turísticos, como as Cataratas do Iguaçu e o Parque Estadual de Vila Velha, também serão inventariados e ranqueados.

O ranqueamento é importante para que se conheça de forma mais profunda as especificidades de cada geossítio. “Existem afloramentos que não são cênicos, não são bonitos, mas que são raros em termos científicos”, explica Xavier. Esta raridade é considerada de alto valor científico e didático, pois, a exemplo do que acontece na Bacia Sedimentar de Curitiba, registra elementos importantes para se compreender a evolução da história geológica da região. A pesquisa também irá apresentar indicadores sobre vulnerabilidade, o que pode contribuir com estratégias de conservação.

Segundo Fernandes, o inventário será constantemente atualizado com novas informações. “O inventário da pesquisa busca inovações, não aplica apenas conceitos prontos”, comenta. Por conta do seu ineditismo, poderá servir como base para pesquisas em Geologia, História, Geografia, Biologia e Paleontologia, entre outras. A preocupação didática e cultural também faz parte dos interesses do grupo, já que, uma vez conhecido o potencial científico de um sítio, será possível a criação de museus e seu potencial turístico também poderá ser explorado.

O caso da Bacia Sedimentar de Curitiba também é um bom exemplo. Localizado às margens de uma rodovia, próximo a um lixão e sem apelo cênico, o local escondia verdadeiros tesouros, com registros de fósseis como tatu gigante, marsupial carnívoro, cágado e aves gigantes. “Como este, outros locais importantes podem ser perdidos, se não tivermos um inventário do patrimônio geológico do Paraná”, destaca o professor.