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Ciência e Tecnologia
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O Sirius, nova fonte brasileira de luz síncrotron, em construção no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, foi citado pelo editorial da revista Nature Photonics como um dos principais investimentos de países em desenvolvimento na área. A revista lembra que 2015 foi declarado como Ano Internacional da Luz para pontuar a importância dos síncrotrons para pesquisas em diversas áreas e para o desenvolvimento científico internacional,
destacando em artigo a abertura do Taiwan Photon Source (TPS), em funcionamento desde janeiro no National Synchrotron Radiation Research Center (NSRRC), na cidade de Hsinchu.

Segundo o editorial, com o início das operações do TPS há 47 síncrotrons em atividade espalhados pelo mundo, localizados em 23 países – a maioria desenvolvidos, como Estados Unidos, Japão e nações da Europa ocidental. O editorial, no entanto, destaca os investimentos em outras partes do mundo – além da iniciativa taiwanesa, o Solaris, na Polônia, o Sesame, na Jordânia, e o Sirius, no Brasil.

“Novas fontes de síncrotron estão sendo encomendadas e construídas ao redor do mundo, com ênfase em países em desenvolvimento. Tendo em conta os benefícios óbvios, a tendência é encorajadora”, diz o editorial.

O TPS, cuja construção foi financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia de Taiwan, é a maior instalação experimental multidisciplinar de pesquisa do país e tem o objetivo de ser uma das mais brilhantes fontes de luz síncrotron do mundo. Sua localização é estratégica: nas proximidades de Hsinchu estão alguns dos institutos de pesquisa taiwaneses mais avançados e grandes indústrias de alta tecnologia, além da National Tsing Hua University e da National Chiao Tung University.

O brilho do Brasil

Aceleradores de partículas projetados para produzir radiação de alto brilho e amplo espectro, os síncrotrons são uma importante ferramenta científica, utilizada na análise de diversos materiais, orgânicos e inorgânicos, e com muitas outras aplicações.

Para Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS, o destaque dado pela Nature Photonics à experiência brasileira na área evidencia a importância dos investimentos em fontes de luz síncrotron para o desenvolvimento científico nacional e internacional.

“O Brasil foi pioneiro na América do Sul construindo a primeira fonte de luz síncrotron do continente e, agora, parte para este grande upgrade que é o Sirius, seguindo a tendência mundial e conseguindo se manter competitivo”, disse à Agência FAPESP.

O Sirius, citado pela Nature Photonics como “máquina de quarta geração no estado da arte”, será formado por um conjunto de aceleradores de elétrons de última geração e por até 40 estações experimentais, instalados em um edifício em forma de anel com 518, 4 metros de circunferência e área de 68 mil metros quadrados, com o maior brilho entre todos os equipamentos na sua classe de energia em operação ou em construção no mundo.

Roque da Silva reforça que, como destacou o editorial da revista, os investimentos devem ir além da infraestrutura e da tecnologia.

“Não é só a máquina que gera o resultado – a qualidade dos recursos humanos regulares e o apoio ao longo da operação também contribuirão para fazer a diferença em longo prazo. É preciso ter ótimos detectores ao fim das linhas de luz, flexibilidade na estação para a realização de experimentos diferenciados, técnicos e pesquisadores competentes para ajudar os pesquisadores nesses experimentos e todo um conjunto de condições que fazem com que se tenha sucesso globalmente na empreitada”, disse.

A estrutura do Sirius será aberta a pesquisadores de todas as áreas do conhecimento com interesse em experimentos com luz síncrotron. Para Roque da Silva, a versatilidade é o grande trunfo da ferramenta e justifica os investimentos de diversos países na área destacados pela Nature Photonics.

“Os investimentos são altos e devem continuar. Todos os países que possuem fontes de luz síncrotron, como França, Inglaterra, Japão e Estados Unidos, estão planejando upgrades para diminuir a emitância e aumentar o brilho. Tudo isso porque a amplitude de aplicações dos síncrotrons é muito vasta, com utilidade em qualquer área do conhecimento com interesse em pesquisas em escala atômica ou nanométrica”, afirmou.

De acordo com Roque da Silva, os síncrotrons possibilitam a realização de experiências em condições reais e com resolução temporal, permitindo que o pesquisador acompanhe o processo estudado na medida em que ele ocorre.

“Isso tudo faz do síncrotron uma ferramenta imprescindível para a pesquisa. Com ele é possível resolver a estrutura atômica de proteínas e diversos materiais, fazer imagens de tomografias com resolução nanométrica, obter resolução para saber que elementos químicos há em determinados materiais, ou que nutrientes dentro de uma semente, identificar falhas em um semicondutor, estudar tecidos animais para pesquisa em medicina – enfim, as aplicações são inúmeras.”

Comitê internacional

A previsão é que o Sirius emita seu primeiro feixe de luz em 2018. Solaris, a primeira instalação de radiação síncrotron da Polônia, está programada para ser concluída até o final deste ano, enquanto a da Jordânia, que será o primeiro grande centro de pesquisa internacional da área no Oriente Médio, deve operar plenamente entre o final de 2016 e o início de 2017.

De acordo com a Nature Photonics, após a conclusão dessas novas instalações a África será o único continente habitável sem uma fonte síncrotron.

“Limitados principalmente pela distância e pelos custos de viagem, dezenas de cientistas africanos atualmente realizam experiências em instalações na Europa e em outros lugares. Uma fonte de luz na África permitiria que milhares de cientistas e engenheiros africanos tivessem acesso a esta ferramenta científica e tecnológica soberba, ajudando-os a serem competitivos socialmente, politicamente e economicamente nos próximos anos”, diz o editorial.

Segundo a publicação, os exemplos brasileiro, taiwanês e jordaniano impulsionaram a criação de um comitê internacional para criação de uma fonte de luz síncrotron africana.

No Brasil, a FAPESP apoia empresas paulistas de todos os portes interessadas em participar como fornecedoras no projeto de construção do Sirius. Leia mais em agencia.fapesp.br/19760.

A íntegra do editorial da Nature Photonics pode ser lida em www.nature.com/nphoton/journal/v9/n5/full/nphoton.2015.76.html.

Agência FAPESP